quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O que temos e o que queremos



A cidade que temos ainda padece de muitos males. É o esgoto a céu aberto; o lixão que repugna; a falta de arborização; o trânsito caótico; a propaganda enganosa; a estética urbana fossilizada; a imbecilidade dos sons automotivos à guisa de trios elétricos; ausência de fiscalização; os discursos fáceis; agricultura que remonta ao período colonial; a falta de perspectiva de emprego; a ausência de cursos profissionalizantes condizentes com a realidade; os cenários montados; a aceitação de tudo como algum desígnio divino.

A cidade que queremos ainda está bem longe, inalcançável até. Um lugar onde se poderia andar pelas calçadas sem correr o risco de tomar banho de lama; onde a iluminação pública chegue antes da cobrança das taxas correspondentes; onde ninguém precise atravessar a cidade para encontrar uma lixeira; onde as praças sejam locais de lazer e sossego; onde ninguém tenha receios de tecer comentários contrários por medo de ficar desempregado; onde o cidadão sinta-se sempre bem representado; onde não precise enfrentar filas enormes para receber atendimento médico; onde a terceirização de obrigações não signifique acomodações amigas; a cerva gelada tenha preços módicos; onde um diploma escolar tenha mais valor que um título eleitoral; onde a internet não sofra interrupções; e a lista não pára de crescer...

Ah, as utopias. O que seria do homem se elas não existissem?

[...]Deixem-se de visões, queimem-se os versos.
     O mundo não avança por cantigas.
     Creiam do poviléu os trovadores
     Que um poeta não val meia princesa.
     Um poema contudo, bem escrito,
     Bem limado e bem cheio de tetéias,
     Nas horas do café lido fumando,
     Ou no campo, na sombra do arvoredo,
     Quando se quer dormir e não há sono,
     Tem o mesmo valor que a dormideira.[...]
                                                      
                                                          Álvares de Azevedo

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