quarta-feira, 27 de julho de 2011

(In)Cômoda realidade



Não gosto de responder comentários, mas um deles, Anônimo, em postagem do dia 20 deste, trouxe importante ponto de vista, que também concordo, principalmente ao tratar de certo comodismo com veios de realismo que se entranha em nosso cotidiano, quando vemos a vida passando diante de nós como a água que escapa entre os dedos dos que a tentam segurar.


A vida para os que decidem ficar em Esperantina não é lá muito aprazível. Já ri e ainda o consigo, daqueles que tratam a cidade como o Eldorado dos Cocais, um delírio de delicias mil, mas utópico porque inexeqüível ante o comodismo estabelecido, dada a imutabilidade do modus vivendi local.

Por muito tempo não compreendia porque muitos saiam daqui para estudar e não retornavam mais. Mas eles sim compreendiam a situação e a falta de oportunidades dos que não se incluíam no rol dos “bem nascidos”, se é se pode referir assim. Por aqui os caminhos são poucos e as carreiras que se apresentam são estagnadas logo no início, com poucas exceções. Já aqueles que chegam têm outra visão e acessos, certas facilidades, dependendo de suas posses ou malícias ou as duas coisas.

O sertanejo é antes de tudo um forte, disse Euclides da Cunha. Creio que sejamos no mínimo teimosos, isso sim, e como tal postergamos o exílio para outras terras para o último pau-de-arara. Optamos pelo trabalho no comércio local para ganhar alguns trocados ao final do mês; tentar a sorte em concursos, geralmente para o magistério e ralar até a aposentadoria chegar ou fugir pela tangente ao pegar o primeiro ônibus e partir, eis a sina. A menos é claro que se opte render aos prazeres da polítitica e se transfigurar em zumbi eleitoral na esperança de conseguir um DAS básico. Também entre os que conseguem se dar bem temos os agiotas, que se aproveitam da proximidade com a comunidade ou da cadeia de poder, qual sanguessugas, para tirar até a última gota de sangue dos incautos que lhes caem nas mãos.

A vida real não nos oferece as pílulas azuis ou vermelhas, ilusão ou realidade, como na ficcionária Matrix. Claro que este não é um convite ou aclamação ao mal do século que vitimou gerações de poetas românticos nas quadras finais do século XVIII. Trata-se apenas de pontos de vista, não necessariamente extensíveis aos demais.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

A melhor idade



Recebi por email:
Imagem: http://cantinhodaterceiraidade.blogspot.com

Tenho 53 anos. Segundo as convenções sociais politicamente corretas que atualmente estão em voga, me encontro em pleno gozo da "melhor idade"...

Puro eufemismo. Na minha opinião, a gente vive hoje numa sociedade que exalta a beleza física e os artificialismos como nunca se fez em tempo nenhum.

É silicone nos seios, botox nas rugas, malhações, até silicone na bunda estão botando, inclusive os que se dizem "homens".

Então a terceira (melhor) idade é um marketing empurrando os narcisistas para as clínicas estéticas, as clínicas de operação plástica, tratamentos de beleza, metrossexualidades, cremes anti rugas, e tudo mais prá dourar a mente daqueles que não se conformam com a lei natural das coisas.

É a cultura da vaidade. Claro que a gente não pode se atirar e deixar de lado um mínimo de conduta saudável e também um mínimo de amor próprio.

Mas por favor.... Melhor idade??? Melhor idade o escambau...
Quem me dera dar 2 sem tirar de dentro, nadar os 5.000 m que eu nadava sem o perigo de me afogar, correr 45 minutos pelo menos numa boa pelada de futebol, não ter que levar um dedo no rabo de 6 em 6 meses prá ver se a próstata tá direitinha, fazer uma trilha com a minha Yamaha 200 sem que a moçada tenha que parar lá na frente prá esperar o coroa, virar de 6ª até domingo de manhã e no máximo sentir sono....

Talvez seja melhor idade no sentido de que já se conquistou alguma coisa de material por tantos anos trabalhados, ver os filhos crescidos e se desenvolvendo em suas vidas e profissões, boas amizades sedimentadas, não entrar em qualquer fria devido à tantas roubadas que já se entrou...

No mais é pura balela. É papo prá velho dormir...

Não deixa de conter lá suas verdades. A turma do politicamente correto realmente tenta amenizar a vida com eufemismos e se irritam quando outros não aceitam seus conceitos. Tô fora! E tem mais: só para enfezar não farei a compensação em créditos de carbono pelas postagens deste blog. É.

sábado, 23 de julho de 2011

E as surpresas não acabaram




Para defender a sociedade, os brasileiros em particular, a Constituição federal no Capítulo II - Dos Direitos Sociais - Artigo 6º expressa que “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.”

Não satisfeitos, agora foram propostos mais dois itens a esta lista: o primeiro de iniciativa do senador Cristovam Buarque, em mais um acesso de cidadania ou sei lá o que e sob os aplausos dos encantados, decidiu adicionar uma Proposta de Emenda à Constituição com o objetivo de incluir a felicidade como objetivo do estado e direito de todos. Nada mais me surpreende.

Para a execução do segundo, localmente foi decidido que ao estado caberá também acrescentar à lista a posse de automóveis, sem ônus para o proprietário. O detalhe é que isso se dará às custas do contribuinte, que mais uma vez fica com a conta do calote institucionalizado, que permite às pessoas com débitos quilométricos tenham anistiadas suas dívidas e passem a sorrir da cara de quem cumpria suas obrigações anualmente junto aos órgãos de trânsito. Assim fica fácil.

Do jeito que a coisa anda, não demora e será proposto que sejam anistiadas também as contas de água, luz... que tal o bolsa-chopp?

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Tudo está igual como era antes, quase nada se modificou...


No front, nada de novo. Navegando pelos noticiosos locais nada de lê/vê de novo, acho que só eu mesmo mudei. Tudo se resolve ou vai se resolver rapidamente. Estamos em céu de brigadeiro. É só uma questão de tempo. Há, tá, fico mais tranqüilo assim.

Antes que esqueça, agora vejo que a cultura local vai decolar, conforme anunciado durante o festival junino, com a promessa (já?) de que durante as comemorações pelo aniversário da cidade seremos brindados com a apresentação da espuma da nata da cultura local, as duas quadrilhas que representam a cereja do bolo cultural. Terão jabalulê oficial para se apresentar somente um dia e pronto? Espantoso.

E eu aqui esperando ouvir anunciados prosaicos investimentos em baboseiras como asfalto, calçamento, limpeza urbana, cobertura do coreto da praça... um dia acerto uma.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Dois pesos, duas medidas


Aos cidadãos proprietários de veículos o Estado impõe a manutenção da documentação e emplacamento em dia de seus veículos, a desobediência a isto resultando em diversas penalidades, entre elas as multas. Sim, as multas, como esquecê-las?
Imagem: Arquivo
Sabedor disso causa estranheza ver que um dos carros que faz a coleta do lixo – todos? - não possui placa e nem qualquer outro meio que o identifique como prestador de serviço, contratado pelo poder público. Podem-se ver outros veículos circulando pelas ruas da cidade transportando autoridades, no cumprimento de seus deveres, nada mais justo. O detalhe que aporrinha é que não sabemos quais deles são próprios e quais são alugados, desta forma impossibilitando a verificação da correta aplicação do erário, a tal transparência, alardeada aos quatro ventos.

Se estivéssemos no País das Maravilhas, certamente o gato risonho perguntaria se o veículo que leva o pimpolho à escola, aquele que circula altas horas ou nos finais de semana tem “uso exclusivo em serviço”, mas aquele lá é somente ficção, aqui, no mundo real as coisas são diferentes. No coments.

Como esperado, temos legislação que regula a identificação de veículos à disposição de órgãos públicos municipais e conforme inesperado a dita foi relegada ao mofo das gavetas.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Nos Anos 80 era assim

Imagem: wabrasil.com


Sujeito decidido era aquele. Todo ano viajava para trabalhar pelas bandas do sul, no sumpalo. Ao retornar à terra natal, invariavelmente vestido com a moda de lá, tênis com meia, não importava a ocasião e a temperatura; bermudão no meio da canela; camisa de marca comprada na feira e óculos escuros postos sobre os cabelos, para dar um visual inconfundível de recém chegado, que a tudo respondia com um leve sotaque enviesado, ora puxava no R, ora no S parecendo x.

Ele e todos os outros que andavam “no trecho” tinham uma marca registrada: mal chegavam na cidade e já se dirigiam à loja mais próxima onde compravam uma bicicleta Monark do ano e uma flanela – item indispensável, que punham na garupa, que era para dar um brilho na magrela quando tivesse alguém por perto, olhando. Regozijavam-se ao perceber que alguém os observava quando passavam na rua, momento em que executavam pequeno truque: paravam de pedalar e realizavam o movimento reverso, ou seja, pedalavam para trás para, segundo eles, ouvir as esferas (barulho feito a partir do eixo central da bicicleta, na catraca) e com isso conseguiam ainda mais atenção, ao que os populares que o observavam diziam estupefatos:
- Ééééée. Bicicleta novinha. Tirou “da casa” e “pagou no monte”. Isto era o auge da popularidade, o passaporte para os mais diversos comentários e admiração. Fatos que levaram muita gente a seguir o mesmo caminho.

Nenhum destes passava despercebido por quem quer que fosse, visto os modos com que se deslocavam nas ruas. Nos bares e festas eram os mais animados, populares, geralmente pagavam toda a conta e sempre tinham aquelas que se derretiam todas por eles, ou pela grana deles, na maioria das vezes.

Especialmente nos anos 80 este era um típico trabalhador que migrava para os grandes centros urbanos em busca de melhoria de vida, embora destes, grande parte se tornasse prisioneiro desta prática e sempre voltavam ao final de um mês mais ou menos com as mãos vazias, vendiam a bicicleta, o som e o que mais de novidade traziam do sul e se mandavam para lá novamente, este ciclo se repetindo infinitas vezes, até que cansavam ou não conseguiam mais emprego e se estabeleciam nestas terras, geralmente com pequeno comércio para dali retirar o sustento. E não haverá mais farras. E não haverá mais tantos amigos. Nem tantas mulheres. É a vez dos mais jovens também “caírem no trecho” e continuarem a história do êxodo.

domingo, 10 de julho de 2011

E o que seria das cidades sem as praças



Pça. da Bandeira - Teresina/PI
Pça. da Graça - Parnaíba/PI
Pça. Dr. Sebastião Martins - Floriano/PI
Pça. da Biblioteca - Esperantina/PI
Sem comentários.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Até quando esperar



O crescimento rápido das cidades torna caótica a prestação de serviços, onde pioram os índices de desenvolvimento humano. Em oposição ao registro de décadas passadas, hoje assistimos ao movimento populacional no sentido inverso, ou seja, zona rural para zona urbana, levando a uma situação degradante e depredatória de urbanização. As cidades, que já não oferecem condições satisfatórias aos moradores, ainda recebe os egressos do meio rural, de braços abertos e olhos vendados. Rapidamente estes são apresentados à falta de políticas de urbanização que, em rápidas pinceladas, lhes presenteia com uma visão intermediária do inferno de Dante.

A “grande Esperantina”, como não poderia deixar de ser, nos dá mostras de que precisa ter repensada a estruturação urbana, sob pena de piorar o que já não é lá essas coisas. Não há que negar a forma desordenada com que a cidade cresce, sem maiores preocupações com o planejamento de ruas e bairros, espaços verdes e de lazer, então, nem pensar. Ao deus dará, a população se acomoda da melhor maneira possível.

O inchaço populacional hoje visto na cidade se mostra também no índice de desemprego, para ficar apenas com um exemplo. Basta ver as filas de pessoas que se candidatam a vagas na iniciativa privada, quando há anúncio de vagas. Concursos públicos também servem para auxiliar nesta visão do desemprego, visto a quantidade de candidatos por vaga.
Foto: Arquivo
Foto: Arquivo

Uma cidade que cresce desordenadamente, esperantina assiste impassível aos anseios da população que, sem emprego, se vira da melhor forma possível. Temos desempregados que, à falta de melhor opção, tenta a sorte como mototaxistas, muitas vezes sem um mínimo de legalidade, de segurança para si e para os usuários; vendedores ambulantes de toda sorte de mercadorias, como os das fotos acima que, sem outra intenção que não seja garantir a sobrevivência e aproveitando-se do vão deixado pela falta de aplicação e indiferença quanto à existência do Código de Posturas da cidade, instalam barraca de vendas na estreita calçada, bem em frente ao Banco do Brasil, no centro comercial e paralelamente também dão sua contribuição para o já caótico trânsito na cidade, que como pode ser notado e vivenciado, não se restringe à área do mercado público.

domingo, 3 de julho de 2011

O Toque de Midas do erário


Cada lugar tem suas especificidades e tem o que merece. Pelo que li em divulgadores de notícias e comentários sobre o tema, a cultura de Esperantina se resume em duas quadrilhas juninas. Impressionante. Ninguém deveria morrer sem tomar conhecimento disso.

Muito se discutiu, com repercussões nos mais variados meios, o fato de que em 2011 não aconteceram os festivais juninos patrocinados pelo erário nesta cidade. Mas o que realmente chama a atenção é o fato de que o céu quase veio abaixo somente porque não foi liberada verba para que duas quadrilhas (juninas, claro) se esbaldassem, como dignas representantes da nata da cultura nativa. Os outros grupos folclóricos não devem ter suportado essa situação de abandono dos cofres públicos e pereceram. Ou não.

Conjecturas próprias, mas ainda acredito que as atividades culturais devem entreter a população, sendo importantes meios de contar a história de uma região, atuando na divulgação e preservação de valores imateriais, mas sem pendores comerciais. Não há que se converter uma atividade de entretenimento em fator de concorrência mercantil.

Por aqui o bumba-meu-boi, danças de roda e assemelhados forma esquecidos ou atropelados na corrida do ouro? A criatividade e espontaneidade que encantava visitantes sucumbiu ante o vil metal?

Mais sobre a Lei 12.403




Os legalistas comemoram o advento da Lei n.º 12.043, afinal de contas é um absurdo alguém furtar e ficar preso!!!! Agora temos novas medidas quem vão resolver o problema da segurança pública no Brasil:
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades;
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações;
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante;
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução;
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais;
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração;
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial;
IX - monitoração eletrônica.

Essas são as medidas cautelares, diversas da prisão, que serão aplicadas aos que cometerem crimes cujas penas não ultrapassem 04 anos, enquanto sai o julgamento, se é que ele sai. E você não tiver como pagar a fiança não tem problema não, basta dizer. Brasil-sil-sil...

Traduzindonão demora e a população será instada a cantar a música de campanha de determinado político paulista, só que na ordem inversa:
[...]
A liberdade é nossa, a segurança é sua,
Bandido é na rua, gente boa é na cadeia! [...]

Colaboração:

Bel. Antonio Borges de Lima Filho
                                 Agente Penitenciário