sexta-feira, 15 de junho de 2007

Os "filhos da terra" e a Xenofobia

De tanto ouvir pelas ruas de Esperantina que a fonte de todos os males da cidade são as pessoas que vêem de fora, fiquei a pensar o que os “filhos da terra” – este é o termo preferido – fizeram ou fazem para melhorar nossa cidade, pensando no caso, lembrei de um antgo provébios chinês: mais vale acender uma vela que maldizer a escuridão. Espero que nossos digníssimos não pensem que apenas o blá-blá-blá no rádio é suficiente para limpar ruas e encher de orgulho os nativos. De agora em diante, transfigurados em arautos (baluartes?) do povo, põem-se a bradar em alto e bom som, à la Severino da Zorra Total que “mamãe sempre me disse, desde que nasci tenho cara de arauto”. E tome aporrinhação. Devidamente informados (ou não) tecem o rosário de lamentações e denúncias e esquecem de si, de sua falta de compromisso até bem pouco tempo atrás, ávidos que estão em busca de projeção para o vindouro período eleitoral. É interessante, oportuno e digno de ser acompanhado esse processo de pretensa conscientização dos problemas da cidade, pena que o interesse maior por traz de tudo seja a triste e onipresente politicagem, nossa velha conhecida, esta sim, causadora dos males de que padece a cidade. Se hoje a situação está assim como se vê, deve-se em sua totalidade à falta de escrúpulos, de humanidade até, de alguns poucos e à ignorância de outros muitos. A falta de escrúpulos dos compradores de votos e consciências e a ignorância de muitos que trocam seus votos por camisetas, peças para veículos, por dez reais, pela chance de poder usufruir de um programa estatal e assim vai. E assim a cidade permanece no limbo, sempre à espera de um salvador. Até parece que não há mais nada a fazer, que devemos nos sujeitar a tudo e sempre dizer amém. Mas, até quando?
Uma simples busca na internet e temos excelentes exemplos de cidades que superaram suas realidades modorrentas e hoje são modelos de pujança, ou pelo menos apresentam índices satisfatórios de desenvolvimento. Talvez muitas pessoas já tenham feito, na intimidade do lar, esta simples pergunta: para onde vão os “filhos da terra”, ilustres desconhecidos que por aqui permanecem somente até o bendito dia em que se dirigem à capital do estado ou mesmo outro estado para estudar e por lá mesmo ficam. O que pensam seus familiares que aqui residem? Um bom exemplo de superação da realidade foi o desenvolvido na cidade de Ribeirão Bonito, onde os “filhos ilustres” retornaram à terra natal e desenvolveram intenso e digno trabalho em prol da população e não pensaram somente em si. Criaram uma ong, a Amigos Associados de Ribeirão Bonito - AMARRIBO, para quem não conhece, e a partir de então passaram a fiscalizar os atos das autoridades municipais, conquistando o apoio da comunidade local. A partir de então “o sol voltou a brilhar”. Mas para que isso ocorresse, foi preciso coragem, arregaçar as mangas e não apenas ficar de conversa fiada nas esquinas e afins. De boas intenções o inferno já está cheio, precisamos de ação. Diante dos fatos é oportuno formular outras perguntas: quantos populares acompanham os nossos representantes em seu trabalho – pois é - diário, pagos que são com nosso suado dinheirinho? Quantos comparecem às sessões na câmara de vereadores? Quantos cobram empenho das autoridades? Quantos cidadãos “exercem sua cidadania” – outro termo muito popular nos dias atuais – organizando-se para alcançar o desenvolvimento do local, exigindo comportamento ético dos poderes constituídos e eficiência nos serviços públicos? E finalmente, quem será o “grande guia”, aquele que vai mudar essa realidade, um “filho da terra” destemido ou teremos que esperar Os Sete Samurais? Com a palavra, os xenófobos de plantão.