sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Alívio temporário

O fechamento de 2 rádios comunitárias em Esperantina foi/é motivo de muitas discussões por parte de populares e partidários. Alguns dizem que é perseguição política, outros que as ditas cujas funcionavam irregularmente e que o fechamento veio tardiamente e sem total proveito, pois ainda restam algumas. Mas observando as entrelinhas verifica-se que não houve irregularidade no ato de fechamento.

Segundo a lei 9.612/98, que regula o funcionamento de tais rádios, o Serviço de Radiodifusão Comunitária deve ser prestado sem fins lucrativos, porém, devidamente disfarçado de apoio cultural, como acontece aqui, onde se ouve a programação nos intervalos das propagandas. Também não pode haver discriminação de raça, religião, sexo, preferências sexuais, convicções político-ideológico-partidárias e condição social nas relações comunitárias, assim como é vedado o proselitismo de qualquer natureza na programação das emissoras de radiodifusão comunitária, entre outras coisas. Isso sem contar a interferência na freqüência de outros meios de comunicação que não especificamente os radiofônicos. E o que temos aqui? Mais uma lei pra inglês ver.
Entre os tais “relevantes serviços prestados” por nossas rádios comunitárias, com certeza não devem ser contabilizadas as trocas de insultos, os discursos vazios e intermináveis de costumazes interlocutores onipresentes nos meios de comunicação. Bom, ao menos por uns dias ficaremos livres das propagandas de “mega” festas, que não passam de exagero verbal, “mega” promoções inexistentes, etc.

É preciso repensar a maneira como estes meios de comunicação devem ser empregados, pois antes de se transformarem em trincheiras ideológicas, estes tiveram importante papel social e informativo no município.

Vade retrum, aporrinhação!

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Volta às aulas

Com o início das aulas entram em ação os professores, tão criticados e por vezes elogiados personagens do cotidiano. Entre tantos tipos diferentes, encontram-se os super-professores, aqueles que conseguem a proeza de trabalhar em 03 turnos e – pasmem! – alguns em 04 turnos, em diversas escolas e até mesmo em diversas cidades ao mesmo tempo. Para isso contam com a “ajuda” de políticos que, na ânsia do voto, comprometem-se a “ajeitar” seus apadrinhados da melhor maneira possível.
Deve ser ressaltada também a complacência dos profissionais encarregados em gerenciar a educação e que supostamente deveriam coibir tais abusos, mas de certa forma também devem seus cargos a favores políticos.
Como estes super-professores fazem para planejar aulas e descansar é um mistério, mas o efeito disso em parte pode ser observado no desempenho sofrível dos alunos das escolas públicas nos exames nacionais de avaliação de ensino.
Concomitantemente, surge aquela velha queixa de que professores ganham pouco e que por esta razão necessitam lançar-se em jornadas insanas de trabalho em busca de sustento, mas esta é apenas uma ponta do iceberg, outras tantas variantes devem ser avaliadas antes de se condenar ou canonizar alguém.
No início da carreira a carga horária pouco importa aos profissionais, porém, após certo tempo trabalhando começam as queixas, as faltas injustificáveis e estes constatam que o dinheiro ganho já não dá sequer para comprar o remédio para a dor nas costas, a dor de cabeça e outras tantas agruras, mas mesmo assim continuam no martírio, passando assim a diminuir o rendimento nas aulas e, por conseguinte, o interesse do alunado – que, diga-se de passagem, já não é grande - cai nas disciplinas lecionadas.
A cupidez de determinados profissionais da educação pode ser verificada por ocasião dos concursos públicos, quando estes tentam ampliar o leque de atuação nas escolas - em detrimento da situação de outros candidatos que almejam ingressar no magistério - lançando-se sobre os cargos como predadores famintos diante de presas indefesas. Tentam concentrar para si a maior quantidade possível de oportunidades e alegam para tanto que concursos são públicos e que passa quem sabe. Ledo engano. E a qualidade do ensino? Ah, esta pode esperar. Primeiro é preciso construir um patrimônio pessoal, para adquirir o tão sonhado status social. Tudo por dinheiro.
Aos que assim procedem digo que até a presente data nunca conheci um só professor rico, porém, vejo muitos deles doentes, estressados.
Para os insaciáveis, deixo a frase de Erich Fromm: "A ganância é uma cova sem fundo, que esvazia a pessoa em um esforço infinito para satisfazer a necessidade, sem nunca alcançar satisfação."

domingo, 17 de fevereiro de 2008

A ilusão do amanhã

Quando iniciamos a vida escolar somos levados a crer que o Brasil é o país do amanhã; que as crianças são o futuro do Brasil e outras banalidades.
Após devidamente apresentados a um projeto de Terra do Nunca, nos sentindo “donos do próprio nariz” e achando ter bastante conhecimento sobre o mundo e as vivências, somos presenteados pelo estado com a obrigação do voto. Dizem-nos que essa é uma forma de contribuir com a democracia, com o crescimento do país e se não aceitamos esse blá-blá-blá, somos informados da obrigatoriedade de ter o tal passaporte para a felicidade – o título eleitoral, sem o qual somos impedidos de prestar concursos públicos, enfim, sem ele nos tornamos párias da sociedade.
A partir de então, nos deparamos com uma classe abominável a que chamam de políticos, que vivem a nos atazanar com conversas furadas do tipo “se eu for eleito, esta cidade será melhor. Se eu for eleito farei isto, aquilo...” e assim vai. Estes seres extraterrestres (vivem no mundo da lua) nos perseguem a vida inteira e aos mais fracos fazem de marionetes, massa de manobra, são os degraus de seus projetos próprios de alpinismo social.
Revendo hoje a situação de Esperantina, constato que o progresso prometido nos períodos eleitorais passados não foram cumpridos e, no entanto, novamente ouço as mesmas promessas, como que gravadas e repetidas à exaustão em uma ciranda macabra que parece seguir à risca o ditado que diz “uma mentira contada mil vezes torna-se verdade”.
Mas o que esperar de políticos sem compromisso com a cidade e que não são cobrados por suas falas, ou melhor, o que esperar de apedeutas?
Em seus 87 (?) anos de existência, o município de Esperantina já foi palco de inúmeros acontecimentos sociais, políticos e policiais, que na maioria das vezes são esquecidos, porém, de uma coisa não podemos esquecer: a permanência no cotidiano dos maus exemplos políticos.
Sempre que uma eleição se avizinha, lá vem aquele “amigo” - que só aparece a cada dois ou quatro anos, conforme as conveniências - com tapinhas nas costas e soluções mágicas, que parece conhecer-nos tão bem quanto nossos pais. De repente, com uma simples conversa, esse “amigo” nos faz ver que a cidade depende unicamente de nosso voto para se tornar um novo Eldorado. Mas para que isso aconteça nos é pedido em troca um simples voto, que tornará o amanhã mais agradável. Nossa cidade, até então tida como abandonada se tornará a maior, a melhor entre todas, mas... somente após as eleições, esta é uma proposta para o amanhã, sempre o amanhã.
Por que não hoje? O que as eleições trarão de novidade para nós, que já não tenhamos visto ou lido em quase nove décadas de história desta cidade?
Não é benquisto que a política seja somente fonte de renda de alguns senhores e apaniguados. Também não creio que recebam votos apenas para “dormir” em plenário ou para balançar a cabeça em concordância com o que sequer entendem.
Chega de deixar para amanhã o que não é feito hoje por negligência ou oportunismo.
O amanhã que salva também condena.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O ano começou!

Agora que o carnaval cinematográfico de Esperantina já passou, hora de voltar à rotina – se é que dela saímos. Tem início agora o período da quaresma. É a remissão após o desbunde.
Para os ociosos, o ano inicia agora, mas já com vistas à dita “semana” santa. Neste nosso país de contrastes, o dito maior país católico pára por 3 (três) dias para a maior festa pagã do mundo e resume em 1 (um) dia a “semana” santa. Nada mais brasileiro.
Desde janeiro, ou a partir de agora e por mais uma centena de dias (142 dias, segundo cálculos de economistas), nos dedicaremos ao pagamento de impostos, uma espécie de corvéia[i] reestilizada. Tal qual na Idade Média, devemos pagar pelos “grandes serviços” que o Estado (governos) nos presta – pois é.
Tal obrigação seria cumprida com desvelo se os benefícios devidos nos fossem retribuídos, mas o que temos? Se necessitarmos de educação de qualidade, segurança e outras obrigações do estado, melhor pagar por eles e fazendo isso pagamos duas vezes pelo mesmo serviço.
Concedemos ao governo recursos para que este possa proporcionar-nos saúde e o que recebemos em troca? Se quisermos minimizar a possibilidade de entrarmos andando em um hospital e dele sairmos carregados, não podemos contar com a rede pública, no mínimo teremos que contratar um plano de saúde, dada a precariedade de meios para o atendimento.
E o que fazem então os governos com a dinheirama dos impostos? Torram com propagandas cheias de “musiquinha pra cá, musiquinha pra lá” na nefasta tentativa de encobrir o descumprimento das promessas de campanha eleitoral.
Em todo o país – e aqui não é exceção – vemos o financiamento a festas com dinheiro público recolhido através de impostos, que teria com certeza melhor emprego. Enquanto isso, no mundo real falta atendimento médico, calçamentos, redes de esgoto, segurança, educação...
Ao invés de investir milhões em paliativos como os tais programas de redistribuição de renda (que, diga-se de passagem, têm retorno em forma de votos), por que não criar reais oportunidades de desenvolvimento? Poderiam começar com os prometidos 10 milhões de empregos, o espetáculo do crescimento ou a transformação de cidades semi-abandonadas no melhor lugar do mundo para se viver.
Seria bem mais sensato que explorar a dignidade de cidadãos pagadores de impostos, de esquálidos, desdentados ou aproveitadores das bolsas-esmola da vida.
Estão esperando o quê? O Carnaval já passou, o ano começou!

[i] Trabalho gratuito que o camponês devia a seu amo ou ao Estado durante a Idade Média.