quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Devaneio


Dia desses me vi passeando por Esperantina, em período atemporal. Parecia um estranho em um lugar idem: estava no mercado público, que tinha escada rolante. Achei um barato, apesar dos urubus que disputavam por comida, lado a lado com os moradores. Saindo do mercado, maior calor! Tomei uma rua qualquer e de repente o clima mudou, a rua estava diferente das demais, não havia veículos circulando por ela. Maravilhado com a descoberta, logo me dei conta de que – infelizmente – o trecho era curto demais e me vi andando a esmo, à procura da sombra de árvores que não existiam.

Prossegui e logo após o qüinquagésimo quinto buraco no asfalto deparei-me com estranha visão: fontes d’água e ao longe parecia ver o coliseu romano. Tomado de curiosidade, avancei para explorar o monumento. Após transpor o enorme muro, em vez de feras e gladiadores, encontrei inúmeros comércios, onde a bebida e os esgotos corriam como caudaloso rio.

Rapidamente pensei: este é o melhor lugar do mundo para se viver? Devia ser mesmo, pois podia ouvir fogos de artifício ecoar ao longe, embora um desavisado dissesse que apenas se comemorava o pagamento dos serviçais, que havia sido efetuado. Não dei muita importância para este pequeno fato, queria explorar este Eldorado, verdadeiro oásis urbanizado no meio do deserto estéril.

Procurando novidades, sigo sem olhar para os lados e de repente, cataplum! Um veículo loucamente guiado por um imbecil jovem imberbe choca-se comigo e desperto um ano depois em um leito de hospital, de onde saio, olho para os lados e não vejo mais a idílica cidade, ao contrário: percorro-a novamente e vejo as fontes agora secas; o pretenso coliseu convertido em decadente ponto de encontro marginal; sigo correndo na esperança de ver pelo menos a rua refrescante e - pasmo – vejo apenas um vão aberto entre os comércios, tomado de sujeira, veículos e depredado.

Estaria acordado ou agora é que dormia?

Não satisfeito com o que via e tentando me situar, desci pela via em que se encontram fontes e coliseu (pois é) e vendo minúsculo complemento, me pergunto se se trata de um canteiro para cebolas ou apoio para pedestres. Não perco tempo sigo em frente.

Neste momento sinto que meus pés se atrapalham no chão e em vão procuro a cobertura asfáltica. Mas não era para existir? Desisto da busca e decido avançar até o lado oposto de onde me encontro: vou à margem do rio. Lá devo encontrar algo melhor, pelo menos a visão é acalentadora. Ruas com traçado estranho se apresentam diante de mim, mas não ligo, pois vejo que imponente obra foi erguida logo mais à frente. Seria uma homenagem àquele que dizem ter sido o primeiro morador deste retiro? Não. É apenas o resultado de uma promessa, bancada pelo erário. Muito estranho. O estado não é laico? Deixa pra lá, como diria o acomodado.

Dirijo-me à praça e escuto intenso barulho no meio da multidão. Que teria acontecido? Rápido como votação na câmara, me aproximo do local e vejo um grupo de senhores a tirar os mais diversos sons de instrumentos, em tal balbúrdia que fiquei me perguntando o que os cidadãos faziam ao redor da mesma. Decidi que deviam brincar de descobrir Qual é a Música. Uau.

Apesar da repentina distração, percebo-me atordoado. Estaria sonhando antes da batida da moto ou agora?

Preciso tomar um café para clarear as idéias. Vejo um cidadão e indago:

- Onde fica a escola mais próxima?

domingo, 25 de outubro de 2009

Liberdade de expressão



Alguém assistiu à prestação de contas da prefeitura de Esperantina na sessão de sábado, lá na Câmara?

Nem eu. Uhuuuuuuuu!

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Folclore nas festas



Vem ai o 31 de outubro, com a tradicional festa das bruxas – Halloween, mais um fruto do intenso processo de aculturação a que os diversos tipos de mídia nos presenteiam.

Poderiam comemorar o dia do Saci, como se pretende por meio de lei do ano de 2005 (ainda não oficializado). Mas, claro, é mais chique comemorar em inglês, como não? Afinal, ingrêis nóis sabe.

Com um folclore rico em personagens, alguns dos quais remontam a períodos que antecedem à invasão do Brasil pelos Manuéis, a massa prefere adotar a famosa festa das bruxas.

Quando se trata de vangloriar os feitos de algum atleta brasileiro em competição pelo mundo, a turma do tô-ridículo-mas-tô-na-moda se traveste de patético nacionalismo, tomando como seus os feitos dos campeões. Nesta hora vale tudo: se macaquear com fantasias que exaltem a pátria, fanfarras barulhentas e qualquer outra coisa que chame a atenção do mundo.

Mas quando se trata de nossa cultura, as coisas são bem diferentes. Nossas escolas não primam por enaltecer a história local, apesar de passar o mês de setembro celebrando a independência do país e cantando os hinos alusivos como rouxinóis amestrados.

Se nada for feito, assistiremos de camarote ao sepultamento da cultura popular brasileira. Os maiores vilões somos nós mesmos, brasileiros, que aceitamos as bruxas em vez de sacis, boitatás e outros. Aceitando calados assinamos o atestado de óbito de nosso folclore.

E tome alienação: musica baiana é axé music; amor agora é Love; camisa colada é baby look e assim, mandam às favas o vernáculo! Viva o primeiromundismo de araque.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Cidade sem lei...


...ou não. Leis as temos. Até demais. Somente há dificuldades em cumpri-las. No final da tarde de hoje mais um acidente no trânsito nos faz emergir à tona da realidade: estamos perdendo o jogo para o vandalismo, seguimos a passos largos para o caos da marginalidade.

Nosso trânsito desvairado faz vítimas repetidamente, embora há pouco tempo a cidade tenha sido tomada pelos otimistas de plantão, que em pleno êxtase acreditaram nos efêmeros resultados das tais “blitz educativas” realizadas no decorrer de uma longa semana. É como aquele jargão: de boas intenções...

Até quando assistiremos apalermados à sucessão de acidentes ocasionados por imperícia/imprudência de motoristas inaptos? A reação da população será como sempre, tímida e receosa? Continuaremos na eterna espera de boa vontade dos escolhidos?

Para muitos motoristas, os semáforos (pois é) são apenas enfeite. Ninguém pode se arriscar e confiar que uma determinada rua tem sentido único de trânsito sem correr o sério risco de engrossar o rol de vítimas. Os veículos que transportam pessoas para a zona rural ou outros municípios costumeiramente infringem regras básicas, como ao parar no meio da rua para atender as vítimas pessoas; as inúmeras motos com reboque, que transportam mercadorias pelas ruas da cidade não possuem segurança e nem a ofertam, são bólidos que amedrontam e assim a lista segue, interminável como a relação de comissionados.

A temporada de fóruns está à vista (2010) e não será de espantar se formos presenteados com um deles para “estar vendo” os problemas no trânsito local, para depois da plenária estadual e federal, “estar encaminhando” para o setor competente a possível resolução do problema e, pela enésima vez, tudo será resolvido neste retiro de verdes ramagens. Simples assim.

Enquanto isso, a população paga impostos abusivos para manter seus veículos dentro da legalidade. E essa grana serve para que então, senão para implementar ações e melhorar as condições de trafegabilidade?

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

E o verde que havia aqui?




Esperantina cresce, apesar dos pesares. Junto com o crescimento sem planejamento urbano, pode-se verificar a falta de áreas verdes na cidade. E não vale argumentar que aquele mato que cresce na calçada sirva de área verde. Aquilo é apenas uma mostra de desleixo pessoal.

É inútil esperar somente pelos poderes públicos para resolver esta questão. Também temos nossa parcela de responsabilidade nesta querela. Se inexistem ou são irrelevantes as ações por parte de órgãos oficiais, cabe aos cidadãos cumprir sua parte - creio que o surrado termo exercer a cidadania se encaixa bem nesta situação - e abandonar a letargia insolente.

A cada dia diminui o espaço verde em Esperantina, com o corte de uma árvore que incomoda os vizinhos aqui, outra ali para ampliar a área construída e assim caminhamos para o deserto. Reclamamos do calor, mas não vemos o óbvio: as ruas têm pouca ou nenhuma arborização, em longos trechos. Mas arborizar uma área não deve se limitar apenas ao gesto simbólico de plantar uma árvore no Dia da Árvore e depois abandoná-la.

A arborização é essencial a qualquer aglomerado urbano e tem funções importantíssimas como amenizar a temperatura, purificar o ar, atrair aves, constituir fator estético e paisagístico, diminuir o impacto das chuvas, valorizar a qualidade de vida local, entre muitos outros benefícios.

Além disso, a legislação municipal pode e deve incentivar aos particulares a conservação de áreas verdes em sua propriedade, assim como incentivar a sua criação e manutenção, possibilitando inclusive desconto no IPTU ao proprietário que constitui ou mantém áreas verdes no seu imóvel.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Crítica versus Bestialidade



Recebi email malcriado de um criado do obscurantismo.

Entre tantas barbaridades apontadas, atribui a mim a crítica somente à atual administração, que está dando certo e blá, blá, blá., esquecendo-se de observar que o blog não foi criado este ano e sequer olhando posts anteriores, onde abordo temas administrativos de outros períodos.

Assim agem os cegos ideológicos: à semelhança dos cães adestrados esperam agradar os chefes atacando aqueles que ousam discordar deles.

Não se trata de ser de esquerda ou direita, aliás, o conceito de esquerda ou direita já deveria ter sido abolido, por ocasião da queda do muro de Berlim (ou o fim da União Soviética, conforme outros). O tema político está na ordem do dia, quer queiramos ou não. Refiro-me à política e não a polititica.

Das decisões, acordos e atos políticos dependem milhões de pessoas no mundo inteiro e aqui não poderia ser diferente. O que não faço e nunca farei será ficar sentado com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar. Da falta de ação das pessoas é que se dá liberdade para grupos das mais diversas ideologias tratarem a coisa pública como um grande balcão de negócios. Para aqueles, quanto mais a população se afastar da discussão política, melhor, serão menos pessoas para dividir o butim.

Afastados do rateio, mas alimentando-se das migalhas, ficam os bobos da corte, a dizer amém a tudo e a todos, pelos simples prazer da subserviência. Basta-lhes aplaudir. No apagar das luzes, não sabem porque a saúde não funciona, a educação é péssima e porque o salário é mínimo.

E o grand finale, o coup de grace: É mais fácil acreditar do que criticar. Logo existem mais crentes do que pensadores.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

SubDesenvolvimento, aqui vamos nós.



Em meados do mês de julho do corrente ano a prefeitura municipal removeu as estruturas metálicas daquela que seria a rua climatizada de Esperantina, a pedido dos comerciantes supostamente prejudicados com tal obra.

À época da retirada, foi aventada a possibilidade de construir um calçadão (observem que acabavam de destruir parte dele) no local. A isso historicamente se denomina Teia de Penélope, ou obra que não tem fim previsto, pois se constrói em um dia para desmanchar em outro.

Não vi ou mesmo ouvi protestos de populares sobre o desperdício de dinheiro público na obra. Em vão esperei que aquele(s) blog(s) que mal e porcamente fazem as vezes de diário oficial do município publicassem algo a respeito, mostrando opiniões as mais diversas. Tempo perdido.

O que saiu mais caro: a construção inacabada ou a retirada do pouco feito? Agora os comerciantes do local devem faturar e juntar dinheiro a rodo, visto que o povo voltou a circular naquela via. Às favas os incômodos a que os transeuntes estão sujeitos, como o trânsito furioso de bicicletas, motos e assemelhados no local.

Meses após tal fato, provoco: o que foi feito do material retirado do local? Provavelmente enferruja em algum depósito. Onde estão os fiscais do povo? O que dizem a respeito (oficialmente e não nas esquinas, à boca pequena)? Que providências tomaram? Ou não viram nada?

O projeto da rua era bem interessante, megalômano e supérfluo, sob muitos aspectos, mas interessante. De ruim tinha as estruturas metálicas, que eram muito baixas e com certeza tornariam um forno aquele trecho. Mas daí retirar o pouco que já havia sido feito somente para atender caprichos e ciumeira de comerciantes já é demais.

Se, ao contrário, a obra fosse concluída, a cidade ganharia um ótimo espaço para compras, um diferencial em relação a outras cidades da região.

Fico à espera de novo projeto para a rua, pois do jeito que está não engrandece em nada a cidade, vendida nas feiras como turisticamente viável. Uma cachoeira por si só não é suficiente como vetor de desenvolvimento.

domingo, 4 de outubro de 2009

Rio 2016

A onda do momento é festejar a escolha do Rio de Janeiro como sede das distantes olimpíadas de 2016. Pela-primeira-vez-neste-país (para utilizar um termo tão em voga ultimamente) uma olimpíada será disputa nestes trópicos.

O extraordinário nisto? Entre muitas outras coisas, é a chance de o Brasil mostrar competência ao mundo, e não apenas bundas e corrupção.

O que chateia é que a tão falada escolha do Rio parece ter sido mais a título de reparação do que merecimento. Argumentos como: nunca um país da América do Sul sediou uma olimpíada; é preciso despolarizar os locais-sede, para dar chances aos países emergentes e outras chanchadas do gênero fizeram a cabeça da maioria.

Agora só resta esperar que as ditas sejam um sucesso, embora todos saibam que esta será uma oportunidade de ouro para maracutaias e o jogo político de sempre.

Porque a mídia em geral dá os louros da vitória ao Lula? Dizem que seu empenho pessoal em defender a candidatura do Rio foi fundamental para a vitória, com direito a encenação de choro e tudo. Tudo é possível. Neste caso, por que em 2005, a cidade do Rio foi desclassificada numa rodada intermediária para as Olimpíadas de 2012? O retirante já não ocupava o cargo? Surgiu até mesmo um bravo a sustentar a tese de que a exploração do pré-sal, associada com a redução da desigualdade social proporcionada pelos programas de esmolas oficiais repasse social de verbas foram essenciais neste novo momento do Brasil.

Creio que em momento próximo ligarão a escolha do Rio à imagem da candidata-guerrilheira e... pimba! Acontecerá a canalização dos votos canarinhos, atrelada à bolsa família. Sucesso de público. Não tem pra ninguém. Viva o espírito de porco olímpico!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Tormentos


Esperantina é bem dotada de rádios comunitárias, mas realmente necessitamos delas?

Segundo a ANATEL “O Serviço de Radiodifusão Comunitária trata-se de radiodifusão sonora, em freqüência modulada (FM), de baixa potência (25 Watts) e cobertura restrita a um raio de 1km a partir da antena transmissora. Podem explorar esse serviço somente associações e fundações comunitárias sem fins lucrativos, com sede na localidade da prestação do serviço. As estações de rádio comunitárias devem ter uma programação pluralista, sem qualquer tipo de censura, e devem ser abertas à expressão de todos os habitantes da região atendida.

Ainda a ANATEL: As prestadoras do Serviço de Radiodifusão Comunitária podem transmitir patrocínio sob a forma de apoio cultural, desde que restritos aos estabelecimentos situados na área da comunidade atendida. Entende-se por apoio cultural o pagamento dos custos relativos à transmissão da programação ou de um programa específico, sendo permitida, por parte da emissora que recebe o apoio, apenas veicular mensagens institucionais da entidade apoiadora, sem qualquer menção aos seus produtos ou serviços.

E o que temos neste território bendito e ordeiro? Por aqui o tal “apoio cultural” mal disfarça a cobrança dos caraminguás dos anunciantes, disputados a tapas pelos, vamos dizer, locutores, com a devida licença poética.

Por aqui, grupo político que se preza tem que ter uma rádio para chamar de sua, para melhor defender seus interesses a população. O proselitismo impera nelas, seja religioso, seja político. E que não me venham com argumentos chulos para defender mais esta excrescência municipal.

As notícias - entremeadas por comentários muitas vezes dispensáveis - apenas são leituras de outras notícias catapultadas de outros meios de comunicação e a prestação de serviços não resiste a um olhar mais apurado. Isso sem falar que alguns barões do gogó - por vezes - se consideram a última coca-cola no deserto, auferindo para si o poder de forçar a prestação de serviços pelas instituições, numa espécie de rascunho borrado de Moisés a liderar o povo, abrindo mares, quando necessário, até a terra prometida ou o atendimento de súplicas.

Cada povo tem a BBC que merece.