sábado, 20 de dezembro de 2008

Enfim, o ano termina.

Ah. O final do ano chegou. Natal, réveillon, ceia, baladas, bebedeiras. Que período lindo, né não? Todos felizes. Hora de esquecer os cobradores na porta, o vazamento no banheiro e a maioria dos dias infames já passados.

Neste cenário idílico momentâneo, podem-se notar várias alterações no comportamento dos nativos, nas atitudes dos que ora ditam os destinos da cidade, que resolveram nos brindar com a extasiante decoração natalina da cidade!

Quem vê as luzes decorando – pois é – as árvores na sede da prefeitura sente calafrios de emoção e, antes de se recuperar emocionalmente, seguindo em direção à praça, outro assombro: toda a praça iluminada. Não podemos esquecer a sublime decoração da igreja matriz, inédita. Nunca vista este ano aquela decoração. Tem-se a impressão de estar na Avenida Champs Elysées. Coisa de profissional da cidade grande.

Que tal uma foto em frente à (agora) iluminada fonte de água? Se ficar bem no Orkut, por que não?

Mas afinal, o que significa aquela fausta decoração?

- Comemorar o período natalino. Responderia algum desavisado.

Novamente pergunto: para quê? Fico a me perguntar quanto o contribuinte pagará pelo presente natalino. Muitos argumentam: em todo o mundo as cidades se enfeitam neste período.

Chato como crente recém convertido, tento trazê-los à nossa realidade de Guernica pós-bombardeio: de que adianta a decoração “linda e emocionante” e ter os bolsos vazios, as ruas esburacadas? Ah, desculpe: estão asfaltando as ruas. Isso mesmo. Tinha esquecido o recapeamento asfáltico hora em andamento na cidade e que deve ficar pronto antes da próxima eleiç... quer dizer, quinzena.

Aviso aos deslumbrados: cuidado ao apreciar a decoração primeiromundista. Você pode cair em um buraco na rua ou mesmo em uma das poças de lama que - estas sim – enfeitam nossa cidade. É que a situação da cidade não está lá essas coisas.

Voltando ao papo do fim de ano, alguns afirmam que o este é um período mágico, em que o tal espírito natalino inunda as almas e outras falácias.

Vejamos: o comércio vende como nunca, grupos de pessoas se juntam para comemorar o natal, dão e recebem presentes, preparam sua melhor cara de bobo e organizam campanhas de doação para pessoas carentes, mas... e depois? E nos restantes 11 meses do ano? Ignoram os agora notados “menos favorecidos”. De que adianta tanta desfaçatez agora se depois tudo volta à dissimulação de sempre?

O tal período mágico, onde se diz respirar felicidade é, na verdade, caracterizado simplesmente pela ânsia em receber presentes, se empanturrar na ceia natalina e arrasar nas festas. As contas e demais problemas? Deixa para o próximo ano. Preferência depois do carnaval.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

E a história se repete

A curiosa situação política de Esperantina faz lembrar uma outra da política nacional, quando o imperador Dom Pedro I, que enfrentava o constante declínio de seu prestígio e a crise provocada pela dissolução do gabinete, após quase nove anos como Imperador do Brasil, abdicou do trono em favor de seu filho Pedro, em 7 de abril de 1831, então com cinco anos de idade.

Nesta ocasião, a Constituição de 1824 previa que, durante a menoridade do sucessor, o Império deveria ser governado por um Regente que fosse um parente mais próximo ao Imperador. Como no caso não havia quem preenchesse tais quesitos, a Constituição previa a composição de uma Regência Trina Provisória, em caráter interino, para que o Executivo não ficasse acéfalo.

Porém, membros do Partido Liberal, ávidos pelo poder, pretendiam levar ao trono D. Pedro II, mas este só poderia ser declarado maior ao atingir 18 anos de idade. A Regência, por sua vez, mesmo com o nome de provisória, seria um posto ambicionado e, portanto, motivadora de intermináveis conflitos. A solução foi antecipar a maioridade do regente e aclamá-lo Imperador com apenas 15 anos de idade.

E qual a relação então deste fato do período colonial brasileiro com a realidade esperantinense? Ora, observando as últimas notícias veiculadas nos noticiosos locais, pode-se claramente ver que a tal equipe de transição já se antecipa na preparação do novo governo. Seria esta equipe uma espécie de reedição do Clube da Maioridade? O entrosamento entre as equipes e a efêmera administração é tamanho que se tem a impressão de que o prefeito eleito já "mexe os pauzinhos" antes mesmo da data oficial.

Para alguns mais exaltados, a posse do novo prefeito já deveria ter sido levada a efeito para que, tal qual nazareno crucificado, o dito passe imediatamente a operar milagres na cidade, como a recuperação da infra-estrutura urbana. Alguém deveria acordá-los, pois estes demonstram estar imersos na mesma utopia de que já foram vítimas alguns anos atrás, mesmo sem se aperceberem. São daqueles que sempre precisam de um messias salvador que lhes guie no meio às adversidades, mesmo que o custo da salvação seja altíssimo.

Ninguém perde por esperar. Nada de mais destrutivo pode acontecer agora à cidade que já não tenha ocorrido, vide a dança da cadeira entre prefeito e vice, avenida, rua climatizada, etc. Ademais, resta saber a quem realmente interessa a antecipação da administração municipal, uma vez que a mesma deve iniciar somente no período constitucionalmente estabelecido. Como diz o ditado: apressado como cru.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Delírios e conjecturas

O período eleitoral em Esperantina está tão envolvente, tão cheio de disse-me-disse que me envolve completamente. Fico embasbacado com a capacidade dos políticos locais em produzir ficção e fanfarronice.

O que mais falta? Músicas ridículas temos aos borbotões, embora as propostas, que deveriam nortear as campanhas, sejam totalmente relagadas ao ostracismo. Há dias em que penso que, se alguém conseguisse cobrir a cidade com uma lona, poderia cobrar ingresso nas entradas da mesma, pois teríamos o maior circo do mundo. Não haveria concorrentes à altura.

Fico a imaginar, nos momentos em que as estúpidas propagandas permitem, como seria esta nova Esperantina prometida, porém, não consigo imaginar para onde pretendem levá-la, quando dizem que vão mudar Esperantina. Se não fosse pedir muito, poderiam mudá-la para mais próximo do litoral?

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Cultura e aculturação

Nada como um pouco de cultura como válvula de escape para as mazelas do cotidiano.

Confesso que realmente morrerei ser ver tudo. A população de Esperantina teve o privilégio de assistir ao show de um dos maiores pianistas do mundo, Arthur Moreira Lima, totalmente de graça, e o que acontece? Alguns ruminantes de mente vazia se punham a transitar nos arredores da praça com seus veículos, ostentando toda a burrice e vulgaridade que um ser humano possa ter, ligando o som em altos volumes. Imbecilizados pela aculturação, não compreendem a importância de tal evento para suas pobres e medíocres existências.

Não foram poucos os que logo no início do espetáculo se retiravam contrariados, pois esperavam ali ouvir as mesmas músicas de sempre, de toda hora e de todo lugar. Raros foram os que permaneceram para ali se deliciar com músicas que, com certeza, nunca mais serão ouvidas naquele local – pelo menos, não tocadas pelo sensacional Arthur M. Lima.

Talvez (com certeza?), se ali estivesse tocando uma dessas famigeradas bandas de forró, a praça não caberia tantas pessoas, mas, como se tratava de música de qualidade, poucos se atreveram a permanecer no local. Será que a população de Esperantina não tem cultura suficiente para usufruir de seus benefícios? Estaremos condenados a permanecer no medievalismo cultural?

Não espanta que a cidade pareça estar parada no tempo, esperando um salvador. Enquanto os cidadãos de bem e/ou formadores de opinião permanecerem ensimesmados, com a cabeça enterrada no chão à moda dos avestruzes, esse limbo político-cultural permanecerá envolvendo nossa cidade, como o capuz que encobre a face dos condenados.

Precisamos de mais eventos como este em nossa cidade. Se não for possível com ícones da cultura, pelo menos que sejam outros de grande expressão popular e que enalteçam a cultura. Este poderia ser um compromisso dos que hora se lançam candidatos. Bem melhor que manietá-los com esmolas e assistencialismo barato.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Desafio "musical"

Com a proximidade do dia D eleitoral, os veículos que nos importunam com propagandas do paraíso terrestre que será Esperantina agora apelam para as mais chulas versões de – desculpe a palavra – músicas para chamar a atenção dos incautos e ridicularizar os adversários.

Me pergunto então para que serviu a edição de uma resolução, por parte do órgão responsável pela normatização da contenda eleitoral, se a mesma é copiosamente desrespeitada pelos contendores? O que começou apenas como um movimento - vá lá - musical, para diversão entre amigos, agora se transformou em duelo cantado pelas ruas, que substitui as esperadas propostas por baixarias, tristemente também já esperadas como formigas em piquenique.

E a quem interessa tal situação? Aspones e pombas lesas de todos os lados deliciam-se com as virtuoses, que atingem a apoteose quando dois ou mais veículos, supostamente rivais, se encontram nas vias estreitas e esburacadas e, quais cavaleiros medievais, passam uns pelos outros na esperança de vencer (neste caso, virtualmente) o ridículo entrevero, tendo então como prêmio o final feliz com a princesa, neste caso, uma cobiçada viúva, símbolo de poder.

O nepotismo, a genética e os lacaios

A abolição do nepotismo nas três esferas do poder foi um ato tardio, embora seja um sinal de que o paquidérmico estado brasileiro ainda dê sinais de reação ante os escândalos da vida.

A criação de uma lei específica para disciplinar o assunto é apenas mais uma redundância bolorenta do nosso estado cartorário, uma vez que a Constituição Federal já prevê (ou pelo menos determina) que os mandatários exerçam seus cargos de forma impessoal, ou seja, que não façam dos orgãos públicos extensões de seus lares, nem sempre ícones da moralidade e decência.

É ridículo que uma pessoa sem maiores qualificações a não ser parentesco, ascenda a um cargo comissionado qualquer apenas porque tem nas veias o sangue providencial de um manda-chuva ou porque com ele mantenha relações de vassalagem e assemelhados. Enquanto isso, nós, pobres mortais temos que nos esforçar ao extremo para sermos aprovados em concursos públicos e esperar a boa vontade – nem sempre existente – de um pulha qualquer para sermos convocados. Isso na hipótese de que o dito chefe não tenha nas vagas destinadas aos concursados um parente ou lacaio, sedento por um DAS básico.

Agora a idéia é de que os cargos, ainda que permaneçam como cabides de emprego, sejam melhor preenchidos e tenham novo critério para ocupação que não o já surrado viés genético, na mais pura concordância com o adágio o meu pirão primeiro. Espero que o QI volte a significar Quociente de Inteligência, substituindo o atual Quem Indicou.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

A guerra dos clones

Tá certo que Esperantina é uma pequena cidade e que os acontecimentos de relevância são poucos, mas não dá pra engolir essa de diversos canais de comunicação publicarem as mesmas postagens, com poucas ou nenhuma alteração. Temos abordagens superficiais sobre temas interessantes e quando o assunto é realmente interessante, o assunto é abordado em grandes pinceladas.
Sempre que leio as notícias locais me vem à cabeça a idéia de um cartel da informação, com intenções várias que não apenas informar.
É ridículo como pessoas chegam a citar os canais de informação abastecidos por eles próprios como se fossem fontes inidôneas, embora saibam que apresentem leves direcionamentos. Isso sem mencionar o singelo fato de que a censura é uma constante, quando os comentários não satisfazem o interesse de quem realmente manda.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Encantadores de serpente

Alguém já parou para observar atentamente as músicas dos carros de propaganda? Não? Pois está perdendo tempo quem ainda não o fez.

Não é preciso torrar os neurônios para se constatar que Esperantina tem (terá?) um destino promissor, eldorado do cerrado. Sim, desta vez romperemos as amarras que nos prendem ao atraso e, qual mísseis teleguiados, atingiremos implacavelmente o alvo: o sempre prometido e esperado desenvolvimento, que nos alçará ao topo do IDH nacional.

São tantas as músicas e produzem tantos estados emocionais que nos fazem lembrar – por analogia com as intenções de seus idealizadores - o flautista de Hamelin ou os encantadores de serpentes da Índia, ícones da arte de encantar pobres criaturas com doces melodias, a fim de subjugá-los às suas vontades. Em tais casos, o objetivo da música é o mesmo: hipnotizar para dominar.

A música, inicialmente concebida pelo homem antigo para se entreter em volta da fogueira ou para agradecer aos deuses pelas boas caçadas ou ainda pela colheita farta, agora é rebaixada à condição de mero instrumento de alienação. Em instantes transforma indivíduos inexpressivos em versões tupiniquins do nazareno reencarnado. Pobres de nós. Condenados a ouvir por longos e penosos períodos a uma infinidade de paródias que prestam um desserviço à informação e a cultura, já tão combalidas.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Progresso? Onde?

Ultimamente tenho me dedicado a escarafunchar o cenário eleitoral e me considero abismado com o tema do momento: o tal progresso em Esperantina. Já ouvi que estamos em pleno período de desenvolvimento. Ouvi também que o progresso voltará e outras bobagens, bastando para isso que nos conscientizemos (seja lá o que entendam pela palavra). Mas... o que é esse tal progresso? Não o conheço, não o vejo. O que é isso? Se já chegou, onde ele está? Numa rua calçada? Nas mídias que despejam abobrinhas e utopias? Ou se esconde atrás de elefantes brancos estrategicamente dispostos pela cidade?

Enquanto um grupo resiste com unhas e dentes na defesa de que estamos a bordo de um trem bala que nos conduzirá ao nirvana do desenvolvimento, outros afirmam que a redenção somente acontecerá em futuro próximo, tais quais messias insanos a prever as maravilhas do paraíso, somente acessível após o devido juízo final, no caso, as eleições. Embevecidos, rodeiam seus ídolos como os pirilampos em volta das lâmpadas maravilhosas, de luzes alucinantes e, mesmo sabendo que isso fatalmente os prejudicará/matará, entregam-se com avidez ao prazer momentâneo e indizível.

Vendo tais indivíduos a desenrolar planos mirabolantes e salvacionistas, fico ligeiramente emocionado com estes talentos locais. Se os tais se dedicassem à literatura de cordel ou ficção científica, teríamos alguns dos maiores escritores de Best-sellers do Brasil. Quantas mentes brilhantes, quanto talento perdido neste rincão.

Neste momento de súbito arrebatamento, o disfarçado e distante “orgulho danado de ser esperantinense” deve ser interpretado como um sentimento sádico ou altruísta?

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Neo-amigos

Algo estranho no ar. Não ando três quarteirões sem que encontre um amigo. Teria eu me transformado no mais novo popstar deste mundaréu? Deveria acreditar que o momentâneo sucesso se deve a este vil espaço na net?

Não me recordo de ter tantos amigos assim, nem mesmo no período escolar. Lembro sim, e bem, de ter travado contato com alguns destes neo-amigos há aproximadamente dois anos. Será que eles se ausentaram da cidade neste curto período de tempo? Porque não os via desde então. Que será que deu neles? Agora surgem do nada e sem convite, como a praga dos potós. Nunca antes havia presenciado disputa por minha soturna e indigesta companhia!

Porém, antes de ascender aos píncaros da fama mundial na cidade, praticamente um BBB, eis que desperto e me plugo à realidade indecorosa: estamos em pleno período eleitoral!

- Aaahhhh! Logo agora que já me preparava para distribuir os primeiros autógrafos.

Olhando melhor à minha volta, vejo igualmente assediados outros plebeus de baixa estirpe. Todos agora são tratados como a cereja do bolo.

De repente descubro em um desconhecido um novo amigo de infância, tão próximo que ele se mostra. O que dizer diante de tantos apertos de mãos? E os constrangedores abraços então, falsos como notas de seis reais. Particularmente neste período do ano perdemos o anonimato e somos alçados à glória do estrelato chinfrim.

O mais intolerável nisso tudo é que não se pode nem mais entornar uma cerva sem que aquele chato com conversa mole e idéias bolorentas se convide para conversar. Isso sem mencionar aqueles filhos da profissional que confundem nossos ouvidos com um vaso e passam a despejar, a partir de seus possantes-que-o-papai-emprestou, aquelas paródias musicais tristemente modificadas para temas políticos, com a finalidade de hipnotizar os incautos e amealhar zumbis.

É preciso muito engov para agüentar nossos neo-amigos.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Utopia

(...) Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.(...)[1]

Perdeu-se no tempo o encantamento anunciado nestes singelos versos. Cá para nós, a tal “modernidade” nos tem imposto um estilo de vida predatório, tanto da natureza quanto do próprio homem. Sai de cena o idílico cenário e eis que nos resta um arremedo de Guernica bombardeada, corroída pela vassalagem indecente.

Queria viver não no apalavrado melhor lugar do mundo, bastaria que eu pudesse andar de moto nas ruas, sem preocupar-me com os buracos na pista e nem com os tiros dos meliantes, cada vez mais ágeis enquanto nossos escoteiros ficam cada vez mais rechonchudos.

Dá-me asco esta balela de: esta é/foi a melhor festa já realizada nesta cidade... esta é a primeira vez na história de Esperantina em que... o maior isso... o maior aquilo, blá, blá, blá. Enquanto isso, na vida real, seguimos enxotando urubus nas ruas.

Enquanto os noticiosos apresentam o cenário como desejam, a vida real nos acorda. Às vezes acho que alguém deveria soar o alerta geral de que não vivemos no Second Life, onde tudo corre às mil maravilhas, como planejado. Aqui as coisas acontecem e na maioria das vezes são desagradáveis e não facilmente mascaráveis. Tenho como exemplo o meu pobre censor.

Sim. Neste retiro de verdes ramagens que encantou ao velho capitão português temos batalhas invisíveis pelo poder, alimentadas por borra-botas medíocres, ávidos pelas migalhas que caem da mesa, feito cães famélicos.

Aos resignados, deixo uma pérola de Raul Seixas:
Quem não tem colírio, usa óculos escuros...
... Quem não tem visão, bate a cara contra o muro.

[1] Canção do Exílio. Gonçalves Dias.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

A Boa Nova

A Resolução 22.718/08 do TSE impõe camisa de força àqueles que esperavam aproveitar o período eleitoral para abrir os olhos da plebe ou simplesmente tirar um sarro dos candidatos.

Agora, qualquer tentativa de apoio ou crítica a determinado candidato será devidamente enquadrado pela norma. Isso ajuda a evitar o denuncismo barato a que estamos acostumados no período eleitoral, porém, tira toda a graça do chatíssimo período em que valores como cidadania e democracia estão à flor da pele. Fico imaginando o que será de programas como Casseta e Planeta, blogs como o kibeloco e outros heróis da resistência, que proporcionam momentos hilariantes ao nos brindar com distintas visões sobre a dura vida de nossos dignos representantes.

Não precisamos de mais leis e normas, bastaria que as existentes fossem cumpridas. Já não existiam restrições a respeito do tema? O interessante é que os jornais escritos podem atormentar a vida e as chances dos candidatos, mas um simples blog deve recolher-se à pequenez de sua insignificância.

Mas nem tudo está perdido, pois a resolução do TSE tem pontos interessantíssimos, que, se devidamente cumpridos, amenizarão nosso tormento, como:

Não será tolerada propaganda
Que perturbe o sossego público, com algazarra ou abuso de instrumentos sonoros ou sinais acústicos. (prevejo muito trabalho para as autoridades)

Que prejudique a higiene e a estética urbana ou contravenha a posturas municipais ou a outra qualquer restrição de direito. (mais?)

É permitido:
Instalar e fazer funcionar, no período compreendido entre o início da propaganda eleitoral e a véspera da eleição, das 8 horas às 22 horas, alto-falantes ou amplificadores de som, nos locais referidos, assim como em veículos seus ou à sua disposição, em território nacional. Note-se que a propaganda deve iniciar às 08:00 e não às 06:40h, certo? E nada de fazer apostas na Casa Lotérica e deixar a propaganda rolando, ok, amadores?

São vedados a instalação e o uso de alto-falantes ou amplificadores de som em distância inferior a duzentos metros (Lei nº 9.504/97, art. 39, § 3º):
I – das sedes dos Poderes Executivo e Legislativo da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, das sedes dos órgãos judiciais, dos quartéis e de outros estabelecimentos militares (Lei nº 9.504/97, art. 39, § 3º, I);
II – dos hospitais e casas de saúde (Lei nº 9.504/97, art. 39, § 3º, II);
III – das escolas, bibliotecas públicas, igrejas e teatros, quando em funcionamento (Lei nº 9.504/97, art. 39, § 3º, III); Em outros períodos eleitorais, ocorria até mesmo o aumento do volume de som dos veículos quando próximo destes locais. Espera-se que este ano seja diferente.
Até o momento, os incisos acima foram criteriosamente desrespeitados nos primeiros dias de campanha, quando carros circularam com propaganda pela Vereador Ramos e outros logradouros que possuem escolas. Se cumprido à risca, a região localizada entre o tal Teatro Diniz Chaves e o Conjunto Palestina ficará livre deste calvário, visto concentrar órgãos públicos, escolas, área militar e hospital.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Viva o AI-5 capenga!





Por fim, vence a força do dinheiro – traduzindo: o manjadíssimo toma-lá-dá-cá. Her Goebbels de araque é acionado para salvar a república de babaçu.

A mediocridade mais uma vez emerge do berço amado de belas palmeiras. Por grana ou simples pressão – ou tudo ao mesmo tempo, a mordaça prevalece neste rincão esquecido pelos poderes. Neste estado policialiesco, qualquer fato ou opinião contrária aos interesses de crápulas é encarado como pecado mortal. Pobres idiotas.

Corremos o sério risco de permanecer no limbo moral do obscurantismo ético. Mas o que esperar de pessoas famélicas e ávidas por uns míseros caraminguás? Por outro lado isto é bom sinal. Pelo menos a grana volta a circular entre nativos. Estou certo, web? Manjas ou preciso soletrar?

Em homenagem aos censores: Apesar de você

Amanhã vai ser outro dia
Amanhã vai ser outro dia
Amanhã vai ser outro dia
Hoje você é quem manda,
Falou, tá falado, Não tem discussão,
A minha gente hoje anda, Falando de lado,
E olhando pro chão, viu,
Você que inventou esse estado
Inventou de inventar,
Toda a escuridão,
Você que inventou o pecado,
Esqueceu-se de inventar, o perdão.
Apesar de você, Amanhã há de ser,
Outro dia,
Eu pergunto a você,
Onde vai se esconder,
Da enorme euforia,
Como vai proibir,
Quando o galo insistir
Em cantar,
Água nova brotando,
E a gente se amando,
Sem parar.
Quando chegar o momento,
Esse meu sofrimento,
Vou cobrar com juros, juro,
Todo esse amor reprimido,
Esse grito contido, este samba no escuro,
Você que inventou a tristeza,
Ora, tenha fineza,
De desinventar,
Você vai pagar e é dobrado,
Cada lágrima rolada, nesse meu penar.
Apesar de você, amanhã há de ser
Outro dia,
Inda pago pra ver,
O jardim florescer, qual você não queria,
Você vai se amargar, vendo o dia raiar,
Sem lhe pedir licença,
E eu vou morrer de rir,
Que esse dia há de vir,
Antes do que você pensa.
Apesar de você! Apesar de você,
Amanhã há de ser, outro dia,
Você vai ter que ver,
A manhã renascer,
E esbanjar poesia,
Como vai se explicar,
Vendo o céu clarear,
De repente, impunemente,
Como vai abafar,
Nosso coro a cantar,
Na sua frente.

Apesar de você! Apesar de você,
Amanhã há de ser, outro dia,
Você vai se dar mal....Etcetera e tal.....
La laia, la laia,la laia
Música: Apesar de Você
Autoria: Chico Buarque de Holanda

Por favor: o último que sair, apague a luz...

terça-feira, 24 de junho de 2008

Comentários = Lixo?

Há bastante tempo ansiava comentar sobre a situação curiosa verificada em diversos sites/blogs nativos, incumbidos de noticiar os fatos ocorridos em Esperantina. Finalmente surge a oportunidade para pequena abordagem sobre o tema.

Por diversas vezes, ao arriscar um comentário sobre determinadas matérias, temos cerceado nosso direito de opinião. Para que cargas d'água serve afinal o link “comentários” nos sites e blogs da grande rede?

Constitui-se experiência vexatória utilizar destes espaços para comentar as matérias ali postadas, visto que, em não raras vezes, o responsável pela página simplesmente não publica comentários que possam macular sua imagem de arauto da verdade ou mesmo de borra-botas a serviço da malta. Pode ser percebido que em muitas páginas há claras intenções de divulgar somente boas imagens/fatos sobre determinadas pessoas ou grupos.

Se não podemos comentar, porque exibir o link comentários? Só para que outros que compartilham das mesmas opiniões se manifestem? E o direito às críticas, porque não pode ser exercido? Onde fica a liberdade de expressão, tão propalada pela mídia nacional e escancarada na tal constituição cidadã?

Parece que vivenciamos a reedição medíocre do famigerado AI-5, que tanto mal causou aos cidadãos durante o período da ditadura militar, quando era comum se ouvir a máxima “aos amigos tudo, aos indiferentes o rigor da disciplina, aos inimigos morte lenta e cruel”.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

A Reconstrução

O ano era 1947. A Europa estava arrasada pela II Guerra. Diante do cenário de caos econômico e social, os Estados Unidos da América lançam o Plano Marshall, que fornece US$ 14 bilhões de dólares para a reconstrução européia. Tem início então um longo processo de reconstrução dos países europeus e também o combate ao comunismo, então capitaneado pela União Soviética. O resto da história é bem conhecido: a Europa se recupera, os Estados Unidos se tornam potência mundial e a União Soviética tenta em vão derrubar o capitalismo.

A partir de então, quando são apresentados ao grande público os grandes planos de reconstrução, rapidamente vem à memória o plano Marshall. Resguardadas as devidas proporções, Esperantina também terá o seu planinho. Sim, cara-pálida! Seremos o Eldorado dos trópicos, segundo rezam os planos de governo (!!!) de figurinhas insuspeitas pré-candidatas ao cargo-mor municipal, apresentados durante grande encontro com aquele que é a razão de suas vidas: o povo!

Depois de devidamente apresentado à versão alucinante do Plano Marshall Babaçueiro (e, diga-se de passagem, também recuperado da sessão de risos) fiquei a vislumbrar Esperantina daqui a alguns anos: a educação nota 10; as ruas, ladrilhadas com pedrinhas de brihantes, iguais à da música popular. Ahhh, mal posso esperar para ver os meios-fios espetacularmente pintados de branco; as praças sem cantos; improbidade finalmente saindo do dicionário; o salário dos professores então... nem se fala, justíssimos. Prevejo até uma corrida de garimpeiros do magistério de outros municípios querendo aventurar uma vaga aqui; a câmara valorizada e competentemente dirigida; os duendes passeando livremente pelas... peraí, duendes? Acho que deslizei de vez. Só um instante, por favor.

– Alô, é da farmácia? Tem algum tarja preta? Uma caixa pra mim, por favor.
- Glub, glub. Pronto.

Era só um sonho/delírio. Bem feito pra mim, afinal, é nisso que dá, ficar ouvindo discursos enfadonhos em campanhas.

Será o fim? Seria eu mais uma cópia infiel de Policarpo Quaresma da vida? Ou a distribuição gratuita de óleo de peroba seria a alternativa mais acertada?

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Nosso mundinho de "doutores"

Nossa cidade, outrora terra do babaçu é conhecida agora menos pelo elevado número de urubus nas ruas que pela abundância de doutores. Nesta estimada terra, berço de índios longazes, insurge contra a plebe nativa uma nova tribo: a dos doutores.

Afora o fato de estarmos em pleno período eleitoral, o que eleva o número de doutores à quinta potência, encontrá-los é relativamente fácil: basta comparecer em eventos públicos (mas nem tanto), onde nossa high society babaçueira se reúne para ali travarmos contato com a fina casta e observarmos - pobres mortais que somos – o vai-e-vem de doutor X para cá, doutora Y para lá, em uma profusão de doutores que se tem a impressão de estar em meio a um congresso de medicina. Lembra daquele colega de sala de aula? Pois é, agora é doutor. Não se atreva a chamá-lo vulgarmente de senhor(a)! E – suprema heresia – jamais e sob hipótese alguma trate-o por aquele apelido inocente de anos atrás.

Vemos que aqui, salvo honrosas exceções, para um qualquer ser chamado de doutor, não é preciso ter concluído um doutorado – como deveria ser – basta que o pobre diabo tenha uma graduação qualquer (desde que não seja licenciatura, bem entendido). Também ascende ao doutorado qualquer cidadão que ostente alguns traços de riqueza aparente. "Doutor", nesse rincão abandonado aos infortúnios, não é só médico nem pós-graduado: é quem tem cartão de crédito, um carro novo (serve alienado) ou alguém que vive cercado de bajuladores.

Na mentalidade da gente simples da região, qualquer despreparado que chegue com palavras bonitas decoradas a duras penas deve ser considerado doutor. A falta de educação e, por conseguinte, de conhecimentos que perdura há tempos nas cidades interioranas favorece este tipo de tratamento, no qual os “doutores” se gabam e inflam o ego com a simples menção de seus nomes precedidos do digníssimo “doutor”, que, se não indica uma excelência acadêmica, serve para denotar uma distância social, como se isso fosse um título de nobreza, a exemplo dos antigos barões, duques e afins.

As regras do uso legítimo do título de doutor dizem que doutores são os que completam um doutorado e, por consideração especial, os médicos. Com isso, os extratos sociais modernos (leia-se: círculos sociais de abrangência) são usados como indicadores de privilégio e de casta. "Doutor", um título que deveria assinalar a competência específica de um cidadão, é usado para afirmar que ele pertence à tribo dos abastados.

Talvez o deslumbramento pelo título só seja ultrapassado pelo orgulho de ter belamente emoldurado na parede da sala um diploma, passaporte para a imortalidade, o gozo supremo sem camisinha.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Cultura ludibriante

Em meados deste mês terá início o período de apresentação das quadrilhas juninas de Esperantina, com suas peculiaridades, como a mesmice das coreografias supostamente únicas, porém repetidas por todos; os fogos de artifício sem nexo; as historinhas nem sempre fidedignas gravadas com voz cavernosa em cd e que antecedem às apresentações; os gritos de heei! a chamar a atenção em um momento qualquer da apresentação e o clima de “guerrinha” entre os diversos grupos, transformando o que antes era espetáculo em circuito de ferrenhas disputas, com resultados duvidosos.

O “novo estilo” de danças juninas em quase nada lembra o antigo e tradicional, com seus passos simples, dançados sem maiores pretensões, a não ser animar as apresentações. A reestilização de dança tão representativa da cultura popular tem sido por diversas vezes atribuída ao processo de globalização, que a tudo transforma – nem sempre para melhor, como no presente caso. Para os mais antenados, a festa junina é espetáculo kitsch.

Também neste período ainda dito junino, pode ser observado que muitas pessoas extravasam a breguice e utilizam trajes os mais caricatos possíveis, no pressuposto de que as festas são caipiras, deixando assim aflorar do seu eu mais profundo o que possuem de mais piegas no íntimo e sentem-se à vontade, mal disfarçando as origens interioranas que em outros períodos renegam. Por essas e outras, não consigo entender porque ainda se utiliza termos como "arraiá" para designar os locais onde os tais espetáculos ocorrem.

Este é um período em que se pode falar sem medo e abertamente de quadrilhas, sem que haja imediata associação da palavra com certa classe de “cidadãos” que conhecemos bem, infelizmente. E, Como não poderia deixar de ser, estes agora se esmeram apoiando a mais pura expressão da cultura popular, patrocinando grupos diversos com nítidas segundas intenções, enquanto nos bastidores continuam a conspirar contra todos que se interponham entre eles e o poder (leia-se dinheiro). Distração para encobrir embromação.

Anarriê para eles.

Anavantur para a cultura, ainda que trôpega.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Parem o mundo...

... que eu quero descer!

Os presentes acontecimentos em Esperantina levaram-me a “dar um check-up geral na situação” e constatar que estou desconectado da realidade ou vivo estranho pesadelo. Sem delongas, me auto-receito um potente tarja preta. Eis o veredicto. Fatos do cotidiano me compelem a isso.

Tal qual um MST psicodélico, um turbilhão de “novidades” invade espalhafatosamente e toma para si minha visão de mundo. Consternado, constato que o rádio já não serve apenas para comunicar; inimigos figadais agora se unem pelo "bem" do município (será o tal espírito natalino?); teremos uma rua climatizada, enquanto as outras permanecem enlameadas; o namoro agora é virtual; o município vira tábua de pirulito, tantos são os poços perfurados "despretenciosamente"; imparcialidade é só mais uma palavra no dicionário; a igreja dá pitacos em assuntos do estado supostamente laico e assim caminha a humanidade.

Devidamente medicado, tento fixar o pensamento em algo normal do cotidiano – ou o mais próximo possível disso – e novamente sou apresentado à melancólica e imoral (ir)realidade, onde alguns cidadãos com forte poder de formação de idéias não passam de marionetes de outros com idéias ultrapassadas; autarquias (metaforicamente falando) se convertem em pingüins de geladeira e outros em vacas de presépio, vitimas que são do próprio semi-analfabetismo. Tudo isso em favor de votos nas eleições vindouras; medo de perder o cargo duramente compr... quer dizer, conquistado; aquisição de status e quem sabe, um DAS básico, afinal, eles também são filhos de... de quem mesmo?

Se algo ou alguém rege os destinos do mundo, deve estar esquizofrênico. Tarja preta nele também!

segunda-feira, 26 de maio de 2008

As duas faces de uma triste realidade

Para quem achou que a marmelada do final de semana em Esperantina fosse terminar de outra forma, lamento informar, mas somente alguém nos mais loucos devaneios acreditaria em outro desfecho para tal episódio.

Devemos imaginar que "nossos" vereadores, como digníssimos representantes da estrutura de poder proposta por Montesquieu, estudaram a peça acusatória com afinco antes de emitir tais votos. É o mínimo que se deve esperar deles. Seria de bom alvitre que dos digníssimos representantes do povo fosse cobrada alguma escolaridade e senso crítico para o exercício do cargo, ao contrário da simples capacidade de agregar votos nem sempre colhidos às claras e dentro dos ditames da lei.

Por que então, nós, simples pagadores de impostos, se quisermos assumir uma função pública, precisamos estudar e passar em concurso? Afinal, exigem-se anos de estudos, exames e diplomas antes de permitir que alguém construa um prédio ou arranque um dente... Enquanto que daqueles que tratam de nossas liberdades e de nossas propriedades, que determinam os impostos que temos que pagar e as leis que nos regem, que manipulam orçamentos de milhões não se exige preparação alguma, somente que apresente de qualquer forma uma determinada quantidade de votos. Ah, esses senhores...

E ainda reclamam se alguém afirma que os ditos parecem seguir nos mandatos apenas para conferir homenagens demagógicas à espera de futuros dividendos eleitorais ou a nomear ruas com nomes de parentes ou pessoas próximas a eles.

Negras nuvens se apresentam no horizonte (sem trocadilhos, por favor). Quando reverteremos este quadro desolador? A gente não quer só comida, a gente quer saída para qualquer parte. Você tem sede de quê?

Nossos baluartes cada vez mais se parecem com perus magros: pouco peito e muita farofa.

domingo, 18 de maio de 2008

O Grande Timoneiro

Neste momento, a população de Esperantina empreende busca pelo Grande Timoneiro, aquele que (espera-se!) deverá conduzir de uma vez por todas o município ao grande salto para o futuro, um período de progresso e que o livre da estagnação que assola o município desde sua criação, apesar das tradicionais exceções. A expectativa é que desta vez, o salto seja para frente.

Essa busca deve ser cautelosa, pois sempre aparecerão logo ali em uma esquina qualquer aqueles munidos de soluções mágicas, com o apelo do “novo”, como se isso credenciasse alguém a exercer um cargo qualquer. Outros não apresentam novidade alguma, somente o velho e surrado método estúpido de fazer da política um balcão de negócios e que se apresentam como cordeiros, quando na verdade são lobos sanguinários. A figura do grande timoneiro pode ser apenas mais uma caricatura, uma espécie de rompimento com um passado de letargia que submerge esta cidade. Porém, não faltam asseclas prontos a seguir os passos de “profetas” do desenvolvimento, astros das falácias, sejam eles quem for. Pobres diabos, reféns do subdesenvolvimento.

Nosso povo segue sendo escravo da própria deficiência, alimentando um esquema que o consome, em um suicídio ético que perpassa décadas e não se soluciona porque isso levaria à morte desse esquema, que se mantém justamente pela deficiência dos poderes.

Por vezes, ouço ressoar as palavras cheias de sabedoria e, infelizmente, sempre atuais, de Rui Barbosa, naquele célebre e profético discurso:

"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto".

E o pior em tudo isso é a atualidade dessas palavras, que, se fossem proferidas hoje, fariam o mesmo sentido, teriam a mesma validade, sendo perfeitas para retratar o momento atual por que passamos.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Progresso. Ah! O progresso!

Quando o Governo Federal iniciou em 2004 o Programa Nacional de Universalização do Acesso e Uso da Energia Elétrica, vulgo "Luz para Todos", o objetivo era levar energia elétrica para a população do meio rural. Até ai, beleza, tendo em vista que em muitos lugares o padrão de vida é medieval.

O problema é que antes de executar o idílico projeto, a ação apropriada seria o fortalecimento do atual sistema de distribuição de energia para o resto do mundo que paga (e caro) para ter esse benefício. Sem isso, ficamos à mercê de constantes falhas no “sistema” elétrico, onde as oscilações de energia nos impedem de usar aparelhos eletroeletrônicos em determinados horários, em determinados dias. Por vezes, o problema ocorre dias a fio em horários específicos e, se nessa ocasião, por um acaso do destino algum eletrodoméstico comprado à custa de muito trabalho for danificado, não adianta reclamar na prestadora de serviço, a culpa sempre será nossa.

Segundo fontes oficiais[1], o objetivo do Programa é levar energia elétrica a estas comunidades (rurais, em sua maioria) para que elas a utilizem como vetor de desenvolvimento social e econômico, contribuindo para a redução da pobreza e aumento da renda familiar, blá, blá, blá. Além disso, a chegada da energia elétrica facilita a integração de outros programas sociais, como o acesso a serviços de saúde, educação, abastecimento de água e saneamento. Traduzindo: é um campo fértil para a proliferação do assistencialismo governamental, que reduz pessoas à condição de eternos dependentes de esmolas oficiais.

Para que o progresso chegue ao homem do campo – merecidamente, diga-se de passagem – há custos muito altos de execução e advinha quem será o premiado que vai pagar? Segundo um ex-governador, “o ‘Luz para Todos’ é financiado por recursos extraídos das contas que os consumidores pagam pelo uso da energia na zona urbana”, ou seja, nós, depauperados pagadores de impostos. Isso é lindo, não?

É o progresso, cumpanhêros. Vamos levá-lo também ao homem do campo, por que não? E de quebra, vamos apresentá-lo ao caos que é ficar dependente de um serviço mal ofertado e a preços abusivos. A rapidez e eficiência só chegam ao usuário quando da cobrança mensal, essa sim, infalível, como Bruce Lee.

[1] Ministério das Minas e Energia. http://www.mme.gov.br/programs_display.do?prg=8.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Olhando em volta

Fique sentado na frente da tv, não faça força pra tentar entender.

Este trecho de música, que passa despercebido pela maioria dos ouvintes é um convite ao questionamento, um desafio nem sempre aceito pela população, que prefere seguir alienada, sem que perceba isso. O poder da mídia para imbelicilizar o cidadão é inquestionável. Nestes tempos modernos, pensar dá fadiga.

Basta abrir um jornal, ligar a TV, acessar a net e lá está destacado em letras grandes algum projeto faraônico, a solução para todos os problemas, a relativização de fatos deploráveis, tudo isso já pronto para ser digerido por mentes dementes, pouco afeitas ao livre pensar.

Precisamos realmente que nos ditem tudo, desde o modo de nos vestir, divertir, pensar, viver? Por que acreditar logo de cara em tudo o que está escrito sem questionar quem escreveu e porque o fez?

Procure notícias de Esperantina na internet e se verá entre raras exceções um monte de baboseiras, quase sempre com direcionamento político-partidário. Sempre tem alguém querendo impor sua “verdade” sobre os demais, divulgando ou mascarando fatos através de notinhas aviltantes, criando uma legião de bobos da corte, manipuláveis ao bel prazer de pseudo-líderes.

Aos exaltados, porém, cabe aqui um aviso: antes de virar um Dom Quixote libertário e sair combatendo inimigos imaginários (ou não), é necessário identificá-los, e - por pior que pareça a idéia - pensar. Pense na realidade ao seu redor e depois releia as notícias locais, talvez um lampejo de lucidez seja suficiente para novas interpretações.

“Há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia”. Hamlet.

domingo, 27 de abril de 2008

Liberdade de expressão

Com misto de satisfação e receio observo atentamente os vários canais de informação na cidade, sinal dos bons tempos, onde a liberdade de expressão é assegurada, pena que nem todos a exerçam com imparcialidade.

Enquanto um grupo de noticiosos parece publicar matérias em cadeia nas diversas mídias disponíveis, tipo fotocópia, outros passam a divulgar toda sorte de notícias a pretexto de informar, em um processo de vulgarização sem precedentes, onde não importa a qualidade e sim a quantidade de fatos expostos.

A “verdade” é escancarada em termos truncados, ficando às vezes incompreensível. Aos atravessadores de notícias não custa nada lembrar o ditado “existem sempre 3 verdades: a minha, a sua e a verdadeira”. Acrescente-se ainda que as segundas intenções são notórias e onipresentes, sempre há um “jeitinho” para colocar uma foto ou opinião legal de um “amigo” correligionário, flagrado (vejam só!) exercendo boa ação. Na pressa, fatos considerados positivos aos adversários são atropelados impiedosa e maldosamente para auferir maior efeito aos leitores que se deixem alienar. Parecem escrever vendados para a realidade e vendidos ao delírio.

É inegável o que está grafado na Constituição de 1988: “A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição”. Mas há de se convir que a utilização de meios de informação para proveito próprio ou de outrem em período delicado como este agora, ano eleitoral, deveria ser comedido.

Liberdade com responsabilidade. O resto é papo furado.

Só existem duas maneiras de fazer carreira em jornalismo. Construindo uma boa reputação ou destruindo uma. Tom Wolfe, jornalista e escritor

sábado, 19 de abril de 2008

Talvez uma "nóia"

Atualmente, o voto é um exercício de sado-masoquismo político. Para alguns parece haver prazer em ver a multidão sofrer e às vezes em ser eles próprios as vítimas de malefícios. Isso ocorre quando os incautos votam e elegem aquele que aumentará impostos; que empregará parentes e/ou apaniguados em bons cargos sem que os mesmos prestem concurso, como todos os simples mortais; que terá laranjas a receber metade do salário em favor de outros; que incorporará como seu o patrimônio público e outras mazelas do tipo. Este é o mundo execrável, porém real de parcela considerável do meio político.

Ao longo do tempo, passei a cultivar o infame hobby (sim, um hobby, só que bem mais modesto que "aquele", escancarado na TV) de observar minuciosamente as diversas manifestações da mídia pré-eleitoreira e deparei-me com interessante campanha de órgão eleitoral, que apresenta em cartaz um jovem de brinco com cara de rebelde e alguns dizeres ufanistas. No dito cartaz é expresso o orgulho de poder decidir o futuro do país através do simplório uso do título eleitoral, como se o mesmo fosse o passaporte para um mundo paradisíaco, sem fome, sem desemprego, sem desvios de dinheiro público e outros temas idílicos.

À primeira vista, diante de tal cartaz, tem-se a impressão de que o simples brandir do título terá o efeito de uma vara de condão, aquela das fadas-madrinhas, a espalhar benfeitorias pelo mundo. Porém, a realidade mostra diferenças abissais com o cotidiano, onde o efeito colateral do mau uso do título (ou previsão de uso deste) pode ser verificado quando a simples ajuda a desabrigados vitimados por enchentes se transforma em luta encarniçada por votos. O único valor do funesto documento é servir como moeda de troca. Não se iludam!

Quanto a mim, a proximidade de meu título com uma caixa de fósforos desperta tentação irresistível, uma nóia talvez.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Sua majestade, o rio

Todos os holofotes se voltam para ele neste momento. Nada de politicagem. Nada de caso Isabela. Nada de nada. É hora de esquecer aquele lixo que jogamos outro dia no leito do rio. Esqueça também o futebol ou os programas enche-lingüiça da TV. O barato agora é passar o dia atrapalhando o trânsito e o serviço dos bombeiros no cais e onde mais haja uma poça d’água.

Sua majestade, o rio Longá, tomou a cena e se tornou a mais nova celebridade instantânea da mídia. Qualquer grupinho de especialistas-de-fundo-de-quintal acha-se no direito e dever de opinar sobre a grande inundação e não mais somente as autoridades diretamente envolvidas no sinistro.

Depois da correria para transportar os prejudicados, a grande sensação agora é: quem ajuda mais? Ou melhor: quem aparece mais? Personagens insuspeitos e outros nem tanto assim disputam tete-a-tete, palmo a palmo quem é o papai noel do momento. É tudo como um grande leilão onde vence “quem dá mais”, no bom sentido, é claro. Olha um cinegrafista ali! Pose com uma cesta básica na mão. Um fotógrafo acolá! Pose ajudando um velhinho a sair do barco. Flash! Será que os eleit... quer dizer, a população vai me reconhecer no jornal? Pensando bem, meu cabelo bem que poderia estar cortado. Não, melhor pintar de preto, dá uma aparência mais jovial.

E assim, nessa dúvida cruel e decisiva para o futuro da humanidade, alguns “filantropos” passam os dias a vaguear pelos bairros ainda alagados, cumprindo seus deveres de cidadãos e cristãos (pois é), sem a mínima pretensão. Em troca de sufrágio? Nunca, jamais, imagine! A gratidão estampada em um rosto esquálido é o único e glorioso pagamento. Dever cumprido.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Um olho na enchente, outro no voto.

Parece incrível, mas até mesmo durante a situação de calamidade pública, como esta das enchentes em Esperantina, os oportunistas se aproveitam para angariar alguns votos, camuflados entre sentimentos humanitários – ou cristãos, como preferem alguns.

Um prévio estudo já deveria ter sido feito pela tal defesa civil do município (se é que isso existe) para, quem sabe, minimizar este tormento, porém, o imediatismo é dominante no medíocre pensamento político local. Mas afinal, para que perder tempo com projetos, se a “ajuda” in loco atrai para si todas as atenções e desperta os amores do povo?

Agora que a cidade já atraiu a atenção dos poderes públicos municipal e estadual (nossa!), defesa civil, bombeiros, policia militar, ainda falta o bope e a força nacional. O período eleitoral tem dessas coisas, infelizmente.

Porém, não adianta agora apontar culpados. Para o bem ou para o mal, ainda bem que este é um ano eleitoral, caso contrário não se veria multidão de “filantropos” a se disponibilizar – somente pelo amor ao próximo - a qualquer hora do dia ou da noite. Verdade seja dita, muitos possíveis candidatos, de todos os matizes, estão empenhados em ajudar a população vitimada pelas enchentes, em uma frente de solidariedade que deveria se estender durante todo o ano, quem sabe assim finalmente o desenvolvimento batesse às nossas portas!

Só para lembrar: se aquela obra de contenção de enchentes, apelidada de cais, tivesse sido construída totalmente, evitaria grande parte dos problemas ora vivenciados, mas o desinteresse fez com que fosse deixado pra trás, pois as enchentes apresentam ótimas oportunidades para colher votos entre os flagelados.

"Nesse mundo existe a ganância
nisso gera fome e a miséria
uns tem tudo e outros não tem nada
esse é o lema na minha pátria amada
".
(Vírus 27)

terça-feira, 1 de abril de 2008

Cadeiras vazias, compromissos idem

Para quem ainda tem a capacidade de se indignar, o último episódio da novela mexicana em que se transmutou a governança municipal apresentou um triste espetáculo: as cadeiras vazias no plenário da câmara municipal.

Logo em data tão divulgada e aguardada, quando determinados setores convocavam os populares à câmara para mais um episódio, onde metaforicamente deveria ser aberta a mitológica Caixa de Pandora, “nossos” digníssimos edis, que para representar o povo em suas mais diversas necessidades, recebem salários nababescos para o padrão local, no entanto, saíram pela tangente. Essa é a nossa democracia capenga. Em Esperantina, a democracia está para o povo, como o céu está para o tatu.

E por falar nela, lembrá-los-ei: democracia (do grego "demos" = povo; "cracia" = autoridade, poder) é o governo do povo, pelo povo e para o povo. Nas democracias é o povo quem detém o poder soberano sobre o poder legislativo e o executivo. Os senhores entenderam ou é preciso desenhar?

O descaso representado pelas cadeiras vazias no plenário mostrou a perversidade do poder e o aviltamento da sociedade que depositara seu voto, sua aposta de fé em siglas e promessas vãs. É a Política S/A.

Se aquela velha e batida história de que os digníssimos são "funcionários do povo", então, exercitando meu poder de cidadão-patrão, de minha parte declaro solenemente: vocês estão demitidos. Isso mesmo: pé nos glúteos.
Dever virtualmente cumprido, volto a ler história antiga, mais exatamente as lições do Império Romano, com Nero, incitatus, pão e circo...

terça-feira, 25 de março de 2008

Vida de gado

Passada a semana gastronômica - quer dizer - santa, voltamos à modorrenta rotina em Esperantina. Depois do deslumbramento diante de tão extasiante e cinematográfica festa, ainda inebriado ante tamanho espetáculo proporcionado às massas, não me sinto mais diminuido existencialmente por ter perdido o TIM Festival, economizarei uma grana com analista.

Paralelamente à execução da festa, em vão esperei pelo pacote de obras anunciado pela tríade da informação, entre as quais, o tal “tapete preto” (ai, que luxo) que seria “inaugurado em grande estilo” (idem) e outros bolodórios. Porém, para honra e glória dos munícipes, constatei sim, os meio-fios da cidade espetacularmente pintados de branco, que, tal qual cordão de isolamento das micaretas, parecia guiar os turistas, limitando-os em determinadas áreas previamente estabelecidas, uma espécie de releitura dos bretes nesta vida de gado.

Quanto à festa propriamente dita, para quem gosta de ouvir pela enésima vez os “novos sucessos” de sempre e de toda hora da mais pura expressão de cultura popular (pois é), deve ter sido uma boa pedida, afinal, cada qual tem suas preferências. As cenas das pessoas “dançando” no local lembravam o aqua dance em sofrível versão adaptada.

Só não entendo o porquê de uma festa com grande apelo popular - e até onde sei, levada a efeito pelo poder público - tenha caráter privatista, ao limitar o acesso aos trios àqueles que compraram abadás e deixando assim os “pipoqueiros” a ver (acompanhar?) navios. (qualquer relação com o volume de água no local é mera coincidência, força de expressão). E o que dizer dos camarotes?

Seria esta a nossa versão quixotesca do Baile da Ilha Fiscal? Só o tempo trará a resposta.

Enquanto isso, melhor voltar a curtir Rauzito...

...Papai não quero provar nada
Eu já servi à Pátria amada
E todo mundo cobra minha luz
Oh, coitado, foi tão cedo
Deus me livre, eu tenho medo
Morrer dependurado numa cruz...

segunda-feira, 17 de março de 2008

A miséria nossa de cada dia

Por total ausência de algo importante a fazer, estava a ouvir um programa partidário local, onde um debate acalorado era travado sobre realidades municipais e um dos participantes, quando indagado sobre um caso de desnutrição neste território bendito e ordeiro, afirmou entre outras coisas que “a África é aqui”.

A declaração é infeliz, embora não incorreta no sentido comparativo e tem uso corriqueiro nos meios de comunicação atuais.

Temos a imagem da África como um continente extremamente pobre e detentor dos maiores índices negativos em todos os aspectos da vida humana. Essa é a imagem que a mídia mundial nos passa e esquecem-se de que grande parte da culpa do que lá ocorre hoje é decorrente de séculos de exploração dos que hoje se arvoram de “defensores da humanidade”, amparados pelo obscurantismo religioso de diversos matizes.

Voltemos ao pronunciamento.

Se for para exemplificar a miséria aqui em Esperantina, não precisa ir tão longe, bastava olhar nos arredores, em outras cidades. Não precisamos de comparações com a África, se temos aqui miséria considerável, made in Brazil, yes.

Não queremos citar nossa cidade em particular para não envergonhar nossa elite e/ou prejudicar o turismo? Ok. Com a visão devidamente obstruída, passaremos então a generalizar e citemos o nordeste brasileiro, tão pródigo em exemplos de miséria, eternizada e romantizada em livros, filmes e reportagens que geram bons dividendos, prêmios, um minuto de indignação e... nada mais.

Aqui, tal qual na África, existem vítimas de séculos de exploração destruidora, perpetuada pela política dos coronéis, a indústria da seca e outras obscenidades, velhas conhecidas nossas, resultantes do jogo de interesses entre a classe política e a “sociedade”, em um processo elitista, opressor, burro e explorador. Também outras regiões do Brasil têm índices alarmantes de miséria, embora isso seja pouco divulgado para não “macular” a imagem de estados poderosos.

Os resultados da discussão não cheguei a ouvir, pois a repetição das mesmas falas em tom monocordioso tem o poder de induzir ao sono o mais abalizado dos ouvintes. Quanto ao debate, infelizmente talvez seja mais balela, gritos no vazio, o tal "enchimento de linguiça".
Indignado, adormeço à espera de notícias do mundo real.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Aos hipócritas, sem temor

Não adianta espernear. Se a classe política é um poço de hipocrisia, a sociedade também o é. Há os que se fingem de amigos para tirar proveito de pessoas e/ou bens públicos, por exemplo. Há ainda os que se escudam em religiões – via de regra, os piores - que supostamente lhes projetam ar de honestidade e se lançam no meio político para lutar pelo povo, mas na realidade os vejo tão ou mais hipócritas quanto os demais. Quando porventura fazem algo certo, tomam para si os louros da vitória, porém, quando erram põem a culpa em seres inexistentes, os "demônios", que nada mais são que suas imperfeições projetadas em algo exterior, que pode ser culpabilizado.
Sobre essas pessoas, era comum se ouvir na Idade Média que "A humanidade só terá paz quando o último rei for enforcado nas tripas do último padre". Estas palavras eram usadas pelas pessoas que se sentiam diminuídas na sua existência, vítimas que eram das classes detentoras do poder. Hoje a mesma frase tem outra formulação: Só haverá liberdade quando o último político for enforcado nas tripas do último religioso.
O mundo pertence aos hipócritas, convenhamos. Para estes crápulas, o importante acaba sendo a imagem do indivíduo perante o grupo, o status. Estes têm entre seus objetivos os discursos grandiloqüentes, a defesa aos mais fracos, posar de nobre alma, criticar os vencedores para lucrar. Afinal, raros são os que realizam alguma coisa, enquanto a maioria pega carona, criticando os que sustentam a humanidade, mas disputando os créditos dos bons resultados. O povo desaprova, mas alienado, agradece.
A camuflagem hipócrita esconde os rostos dos covardes, oportunistas e falsos, rende bons frutos para os desonestos, que conquistam pela emoção multidões de esquálidos e desassistidos. A hipocrisia garante a fama de bondoso frente às massas. Ainda bem que os verdadeiros heróis não ligam para os créditos, deixando-os aos hipócritas, contanto que aquilo que tem que ser feito seja feito. Até mesmo os hipócritas agradecem, no silêncio e escuridão do apagar das luzes.
Como disse Voltaire: “Que Deus(?) me proteja dos meus amigos. Dos inimigos, cuido eu”.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Mais que um cabide de emprego

Na disputa acirrada pela eleição dos novos membros do Conselho da Criança e do Adolescente alguém esqueceu de avisar aos competidores que além de direitos, as crianças também têm Deveres. Esqueceram de salientar também que é imperioso o fiel cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, tudo isso aparentemente na vã tentativa de angariar simpatia aos votantes e/ou simpatizantes. É a política do “fofial”.

Afora as atividades já divulgadas – e realizadas, diga-se de passagem - à exaustão pelo conselho, ainda não consegui encontrar um único conselheiro efetuando diligências em festas noturnas, bares e assemelhados, fazendo cumprir os artigos do estatuto. O que se vê são grupos de adolescentes, protegidos por leis benevolentes e caducas a se esbaldar e aproveitar tudo o que lhes é negado entre outros, no art. 81 do ECA.

E a culpa é de quem? De quem vende bebidas a adolescentes? Sim. Mas antes de empalar comerciantes sedentos por dinheiro, seria interessante realizar um mea culpa e distribuir responsabilidades. Nossa “sociedade” hipócrita também tem lá sua parcela de culpa, pois direcionam suas digníssimas atenções para futilidades, limitando-se a ver pela TV os infanticídios e outras mazelas sociais em lugares distantes, esquecendo-se de que basta baixar o vidro fumê de seus automóveis para ver que a miséria é uma constante aqui mesmo.

Mais que um emprego, os pretendentes a uma vaga no conselho devem buscar a realização de importantes ações no âmbito da sociedade, como forma de minimizar a gritante desigualdade social e pelo menos passar aos mais humildes a sensação de que alguém olha por eles.

Nunca é demais lembrar: “quem se curva ante a burguesia, mostra a b** para o povo”.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Alívio temporário

O fechamento de 2 rádios comunitárias em Esperantina foi/é motivo de muitas discussões por parte de populares e partidários. Alguns dizem que é perseguição política, outros que as ditas cujas funcionavam irregularmente e que o fechamento veio tardiamente e sem total proveito, pois ainda restam algumas. Mas observando as entrelinhas verifica-se que não houve irregularidade no ato de fechamento.

Segundo a lei 9.612/98, que regula o funcionamento de tais rádios, o Serviço de Radiodifusão Comunitária deve ser prestado sem fins lucrativos, porém, devidamente disfarçado de apoio cultural, como acontece aqui, onde se ouve a programação nos intervalos das propagandas. Também não pode haver discriminação de raça, religião, sexo, preferências sexuais, convicções político-ideológico-partidárias e condição social nas relações comunitárias, assim como é vedado o proselitismo de qualquer natureza na programação das emissoras de radiodifusão comunitária, entre outras coisas. Isso sem contar a interferência na freqüência de outros meios de comunicação que não especificamente os radiofônicos. E o que temos aqui? Mais uma lei pra inglês ver.
Entre os tais “relevantes serviços prestados” por nossas rádios comunitárias, com certeza não devem ser contabilizadas as trocas de insultos, os discursos vazios e intermináveis de costumazes interlocutores onipresentes nos meios de comunicação. Bom, ao menos por uns dias ficaremos livres das propagandas de “mega” festas, que não passam de exagero verbal, “mega” promoções inexistentes, etc.

É preciso repensar a maneira como estes meios de comunicação devem ser empregados, pois antes de se transformarem em trincheiras ideológicas, estes tiveram importante papel social e informativo no município.

Vade retrum, aporrinhação!

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Volta às aulas

Com o início das aulas entram em ação os professores, tão criticados e por vezes elogiados personagens do cotidiano. Entre tantos tipos diferentes, encontram-se os super-professores, aqueles que conseguem a proeza de trabalhar em 03 turnos e – pasmem! – alguns em 04 turnos, em diversas escolas e até mesmo em diversas cidades ao mesmo tempo. Para isso contam com a “ajuda” de políticos que, na ânsia do voto, comprometem-se a “ajeitar” seus apadrinhados da melhor maneira possível.
Deve ser ressaltada também a complacência dos profissionais encarregados em gerenciar a educação e que supostamente deveriam coibir tais abusos, mas de certa forma também devem seus cargos a favores políticos.
Como estes super-professores fazem para planejar aulas e descansar é um mistério, mas o efeito disso em parte pode ser observado no desempenho sofrível dos alunos das escolas públicas nos exames nacionais de avaliação de ensino.
Concomitantemente, surge aquela velha queixa de que professores ganham pouco e que por esta razão necessitam lançar-se em jornadas insanas de trabalho em busca de sustento, mas esta é apenas uma ponta do iceberg, outras tantas variantes devem ser avaliadas antes de se condenar ou canonizar alguém.
No início da carreira a carga horária pouco importa aos profissionais, porém, após certo tempo trabalhando começam as queixas, as faltas injustificáveis e estes constatam que o dinheiro ganho já não dá sequer para comprar o remédio para a dor nas costas, a dor de cabeça e outras tantas agruras, mas mesmo assim continuam no martírio, passando assim a diminuir o rendimento nas aulas e, por conseguinte, o interesse do alunado – que, diga-se de passagem, já não é grande - cai nas disciplinas lecionadas.
A cupidez de determinados profissionais da educação pode ser verificada por ocasião dos concursos públicos, quando estes tentam ampliar o leque de atuação nas escolas - em detrimento da situação de outros candidatos que almejam ingressar no magistério - lançando-se sobre os cargos como predadores famintos diante de presas indefesas. Tentam concentrar para si a maior quantidade possível de oportunidades e alegam para tanto que concursos são públicos e que passa quem sabe. Ledo engano. E a qualidade do ensino? Ah, esta pode esperar. Primeiro é preciso construir um patrimônio pessoal, para adquirir o tão sonhado status social. Tudo por dinheiro.
Aos que assim procedem digo que até a presente data nunca conheci um só professor rico, porém, vejo muitos deles doentes, estressados.
Para os insaciáveis, deixo a frase de Erich Fromm: "A ganância é uma cova sem fundo, que esvazia a pessoa em um esforço infinito para satisfazer a necessidade, sem nunca alcançar satisfação."

domingo, 17 de fevereiro de 2008

A ilusão do amanhã

Quando iniciamos a vida escolar somos levados a crer que o Brasil é o país do amanhã; que as crianças são o futuro do Brasil e outras banalidades.
Após devidamente apresentados a um projeto de Terra do Nunca, nos sentindo “donos do próprio nariz” e achando ter bastante conhecimento sobre o mundo e as vivências, somos presenteados pelo estado com a obrigação do voto. Dizem-nos que essa é uma forma de contribuir com a democracia, com o crescimento do país e se não aceitamos esse blá-blá-blá, somos informados da obrigatoriedade de ter o tal passaporte para a felicidade – o título eleitoral, sem o qual somos impedidos de prestar concursos públicos, enfim, sem ele nos tornamos párias da sociedade.
A partir de então, nos deparamos com uma classe abominável a que chamam de políticos, que vivem a nos atazanar com conversas furadas do tipo “se eu for eleito, esta cidade será melhor. Se eu for eleito farei isto, aquilo...” e assim vai. Estes seres extraterrestres (vivem no mundo da lua) nos perseguem a vida inteira e aos mais fracos fazem de marionetes, massa de manobra, são os degraus de seus projetos próprios de alpinismo social.
Revendo hoje a situação de Esperantina, constato que o progresso prometido nos períodos eleitorais passados não foram cumpridos e, no entanto, novamente ouço as mesmas promessas, como que gravadas e repetidas à exaustão em uma ciranda macabra que parece seguir à risca o ditado que diz “uma mentira contada mil vezes torna-se verdade”.
Mas o que esperar de políticos sem compromisso com a cidade e que não são cobrados por suas falas, ou melhor, o que esperar de apedeutas?
Em seus 87 (?) anos de existência, o município de Esperantina já foi palco de inúmeros acontecimentos sociais, políticos e policiais, que na maioria das vezes são esquecidos, porém, de uma coisa não podemos esquecer: a permanência no cotidiano dos maus exemplos políticos.
Sempre que uma eleição se avizinha, lá vem aquele “amigo” - que só aparece a cada dois ou quatro anos, conforme as conveniências - com tapinhas nas costas e soluções mágicas, que parece conhecer-nos tão bem quanto nossos pais. De repente, com uma simples conversa, esse “amigo” nos faz ver que a cidade depende unicamente de nosso voto para se tornar um novo Eldorado. Mas para que isso aconteça nos é pedido em troca um simples voto, que tornará o amanhã mais agradável. Nossa cidade, até então tida como abandonada se tornará a maior, a melhor entre todas, mas... somente após as eleições, esta é uma proposta para o amanhã, sempre o amanhã.
Por que não hoje? O que as eleições trarão de novidade para nós, que já não tenhamos visto ou lido em quase nove décadas de história desta cidade?
Não é benquisto que a política seja somente fonte de renda de alguns senhores e apaniguados. Também não creio que recebam votos apenas para “dormir” em plenário ou para balançar a cabeça em concordância com o que sequer entendem.
Chega de deixar para amanhã o que não é feito hoje por negligência ou oportunismo.
O amanhã que salva também condena.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O ano começou!

Agora que o carnaval cinematográfico de Esperantina já passou, hora de voltar à rotina – se é que dela saímos. Tem início agora o período da quaresma. É a remissão após o desbunde.
Para os ociosos, o ano inicia agora, mas já com vistas à dita “semana” santa. Neste nosso país de contrastes, o dito maior país católico pára por 3 (três) dias para a maior festa pagã do mundo e resume em 1 (um) dia a “semana” santa. Nada mais brasileiro.
Desde janeiro, ou a partir de agora e por mais uma centena de dias (142 dias, segundo cálculos de economistas), nos dedicaremos ao pagamento de impostos, uma espécie de corvéia[i] reestilizada. Tal qual na Idade Média, devemos pagar pelos “grandes serviços” que o Estado (governos) nos presta – pois é.
Tal obrigação seria cumprida com desvelo se os benefícios devidos nos fossem retribuídos, mas o que temos? Se necessitarmos de educação de qualidade, segurança e outras obrigações do estado, melhor pagar por eles e fazendo isso pagamos duas vezes pelo mesmo serviço.
Concedemos ao governo recursos para que este possa proporcionar-nos saúde e o que recebemos em troca? Se quisermos minimizar a possibilidade de entrarmos andando em um hospital e dele sairmos carregados, não podemos contar com a rede pública, no mínimo teremos que contratar um plano de saúde, dada a precariedade de meios para o atendimento.
E o que fazem então os governos com a dinheirama dos impostos? Torram com propagandas cheias de “musiquinha pra cá, musiquinha pra lá” na nefasta tentativa de encobrir o descumprimento das promessas de campanha eleitoral.
Em todo o país – e aqui não é exceção – vemos o financiamento a festas com dinheiro público recolhido através de impostos, que teria com certeza melhor emprego. Enquanto isso, no mundo real falta atendimento médico, calçamentos, redes de esgoto, segurança, educação...
Ao invés de investir milhões em paliativos como os tais programas de redistribuição de renda (que, diga-se de passagem, têm retorno em forma de votos), por que não criar reais oportunidades de desenvolvimento? Poderiam começar com os prometidos 10 milhões de empregos, o espetáculo do crescimento ou a transformação de cidades semi-abandonadas no melhor lugar do mundo para se viver.
Seria bem mais sensato que explorar a dignidade de cidadãos pagadores de impostos, de esquálidos, desdentados ou aproveitadores das bolsas-esmola da vida.
Estão esperando o quê? O Carnaval já passou, o ano começou!

[i] Trabalho gratuito que o camponês devia a seu amo ou ao Estado durante a Idade Média.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Nossa Matrix

No momento em que as atenções do mundo se voltam para o combate ao aquecimento global, à febre amarela e sobre quem será o próximo eliminado no BBB 8, é um alívio observar que alguém se preocupa com o meio ambiente em Esperantina.
Àqueles que pensam existir somente nas grandes cidades do país os indivíduos incomodados com o futuro incerto da humanidade, babem: existe uma grande árvore localizada atrás da biblioteca municipal em que há pelo menos quatro meses foi depositado em seu tronco um grande amontoado de folhas. Em minha confessa ignorância, creio se tratar de uma experiência com a tal adubação orgânica.
Claro, só pode ser isso! Adubo orgânico, o que mais poderia ser?
Nada mais ecologicamente correto em tempos de (in)consciência ambiental. Aquele deve ser um projeto-piloto que, dando certo, será expandido por toda a cidade.
Alguns maldosos afirmam que se trata de um monte de lixo, ali deixado à espera de um carro para recolhê-lo. Quanta maldade! Deve ser intriga da oposição. Que mente maléfica pensaria em uma monstruosidade dessas? Eureka! Isso mesmo: trata-se de futrica, intriga política, nada mais. Sujeira? Nãaaooo.
Lembram da expressão “jogar lixo debaixo do tapete”, quando alguém tentava camuflar a sujeira, escondendo-a? Mereceu uma releitura e agora é um ato de cidadania, algo que trará incomensuráveis benefícios aos citadinos e às gerações vindouras.
Bateu uma dúvida: será que as cidades vizinhas também são adeptas deste modus operandi ecológico? Serei culpado por divulgar antes do tempo este experimento? E se outras cidades o adotarem, tomando para si o papel de arautos do meio ambiente? O que será das pessoas empregadas justamente para recolher esse... material orgânico?
E agora o que fazer: tomar a pílula vermelha (ver a realidade) ou a azul (continuar no estado ilusório), nessa neo matrix babaçueira?

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Giro rápido

Um passeio. Basta isso para se observar que a situação da Rua Vereador Ramos é triste.
Em trechos guarda semelhanças ora com as crateras da lua, ora um queijo suíço, em outros, lembra uma pista de rali, aliás, parodiando o mundialmente famoso rali Paris-Dakar, seria interessante a criação (oficial, pois diariamente muitos o fazem amadorísticamente) do rali Mercado Público-Conjunto Palestina, que pode não ser tão extenso, mas tem lá seus obstáculos, lama, animais na pista, areia, alucinados ao volante, pedintes.
A grande pedida hoje seria a recuperação desta que é uma das principais vias da cidade. Por que a demora em consertá-la? A falta de um acidente grave, talvez.
O estado de depredação e abandono é gritante. Na tentativa de amenizar tal visão, recordo-me de outras épocas menos lúgubres, quando inocentes, crianças cantavam:

“Se essa rua
Se essa rua fosse minha
Eu mandava
Eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas
Com pedrinhas de brilhante
Só pra ver
Só pra ver meu bem passar”.

Hoje essa visão romântica de uma rua de Esperantina, seja ela qual for, é improvável. Não precisa ser ladrilhada com pedrinhas de brilhante. Se não for pedir muito, basta calçamento decente, ou melhor, asfalto.
Será que os tais que dizem “amar” a cidade ficarão somente nas falácias ou agirão algum dia para reverter tal situação? Não adianta ir às rádios “comunitárias”, falar como comadres velhas e permanecerem com a boa escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar.
Como já disse alguém: palavras o vento leva, precisamos de ação!

domingo, 20 de janeiro de 2008

Respeitável público...

... hoje temos o prazer de apresentar... o espetáculo da vida!
A cidade de Esperantina terá o grande prazer de receber o digníssimo secretário de educação e séquito para apresentar os nomes dos classificados no concurso SEDUC/CEFET. Quanta glória!
Depois da capital, provavelmente nossa cidade será a única a contar com tamanha atenção. Fico a imaginar o que devem sentir os populares de outras cidades, órfãs de tamanha honraria. Devemos então nos sentir o último biscoito do pacote? Ainda não. Já houve tantos concursos, vestibulares, sem que qualquer representante estatal desse o ar da graça. E porque logo agora?! Ah, tá, foi mais uma das coincidências da vida, beless. Nada a ver com as eleições que se avizinham, que fique bem claro.
É divertido acompanhar tais visitas e observar grupos de nativos se esmerando em bem atender os caraíbas, afinal, são estes que, em troca da atenção dispensada, indicam os mais dedicados aspones aos cabides de emprego em que se tornaram os orgãos governamentais, em todos os níveis, do país, do estado e do município.

Hoje tem marmelada?
Tem, sim Senhor!
Hoje tem goiabada?
Tem, sim Senhor!
E o palhaço, quem é?
(...).

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Aos iluminados

Após breve consulta às relações de aprovados nos recentes concursos públicos, constata-se que é grande o número de portadores de diploma de curso “superior” entre os aprovados. Tudo bem, o concurso é aberto a todos, desde que preencham os pré-requisitos exigidos e não há lei que proíba isso, mas quando alguém que passou quatro anos estudando em uma universidade presta concurso para áreas que exigem nível fundamental, algo (ou alguém) está errado. O que mais chama a atenção é o fato de os mesmos divulgarem à exaustão que foram aprovados em concurso público difícil, que havia mais de dez pessoas por vaga, etc., como se isso fosse o maior acontecimento da história recente. Muitas vezes a explicação dada – e nem sempre plausível – é a de que “não existem vagas em minha área, por isso fiz para qualquer uma”. Mas será que o desemprego é realmente tão grande que consegue podar até mesmo o orgulho de universitários ou será que tais pessoas não “se garantem” no conhecimento da área de formação? Ou será que as duas coisas se completam?

Há ocasiões em que pessoas entram no meio acadêmico e abraçam um curso que não é bem “aquele” desejado, mas em contrapartida é o que apresenta maior número de vagas. A partir de então tem início a formação de um mal profissional ou de alguém que se prestará a fazer concursos em qualquer área, desde que não seja exigido conhecimento acadêmico.

O fato é que quando um estudante é aprovado no vestibular faz uma festa daquelas, passa quatro anos estudando, se esforçando (tá bom, nem todos), faz outra festa ainda maior ao final do curso e depois de apropriar-se do tão sonhado canudo... faz concursos públicos concorrendo a cargos que exigem nível fundamental, tirando assim as chances de alguém que não teve as mesmas oportunidades de estudar e mandando às favas tudo o que supostamente aprendeu na academia.

Parece contraditório, pois grande número de acadêmicos se mostra orgulhoso até demais ao iniciar os estudos, apoiados por professores que incutem em suas mentes que, ao adentrar na academia, elas passam a fazer parte de uma elite intelectual e blá, blá, blá...

Falta a essas pessoas apenas um pouco de consciência. Sim, consciência. É só procurar em algum canto recôndito e bolorento da personalidade e lá estará ela, esquecida na lide pela sobrevivência.

Tá com medinho de não se classificar concorrendo com outros de igual nível? Pede pra sair. Rasgue seu diploma ou então aproveite o papel macio e... faça bom uso.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Nada de novo no front

Para quem ficou surpreso com o último capítulo da votação na câmara, sinto ter que lembrar: Estavam esperando o que? Para acreditar que o esperado realmente ocorresse o leitor deve acreditar também em papai noel, duendes e outras criaturas fantasmagóricas.
O resultado era tão previsível quanto a mosca na lanchonete. A política virou um grande balcão de negócios, onde o destino dos governados baila ao sabor dos humores, das conveniência$ e... ah, sim... da vontade do povo!
Espetáculos à parte, foi uma experiência inigualável comprovar o clima de tragicomédia instalado naquele edifício, por pouco aquilo não se transforma em ato de canonização. Por um momento, ao ver os inúmeros cartazes no plenário lembrei-me da célebre frase in hoc signus vinces (sob este símbolo vencerás), atribuída ao imperador Constantino, por ocasião da batalha da ponte Mílvio, vencida pelo mesmo. Parecia que àqueles que seguravam os cartazes devia ser atribuída novamente esta frase, tal era a convicção estampada em seus rostos.
Novamente o espaço físico foi pequeno para abrigar gregos e troianos, plebe e burguesia. O embate fica mais interessante quando a certa altura do evento, quando a plebe parecia pronta a tomar os microfones e decidir ela própria os destinos do município, eis que o aparato repressor legal e devidamente autorizado do estado entra em cena para manter a ordem. Polícia para quem precisa de polícia, cantam os Titãs.
A partir de então tem início uma das mais controversas votações daquele poder, com direito a aeróbica da cadeirinha. Aliás, este recurso deve ter sido sugerido por alguma mente maldosa, ao verificar o estado de sonolência e apatia de alguns presentes, apesar do calor digno de Hades. Tudo isso devidamente acompanhado pela urbe que, na celeuma, cobrava - com atraso, diga-se de passagem – de “seus representantes” uma posição clara e objetiva, menos acanhada ou algo mais que validasse os votos recebidos pelos mesmos na última eleição geral.
O resultado, todos sabemos, foi decidido na morte súbita, e tal qual no futebol, não agradou aos aficcionados.
Nada de novo no front.