quarta-feira, 23 de julho de 2008

Neo-amigos

Algo estranho no ar. Não ando três quarteirões sem que encontre um amigo. Teria eu me transformado no mais novo popstar deste mundaréu? Deveria acreditar que o momentâneo sucesso se deve a este vil espaço na net?

Não me recordo de ter tantos amigos assim, nem mesmo no período escolar. Lembro sim, e bem, de ter travado contato com alguns destes neo-amigos há aproximadamente dois anos. Será que eles se ausentaram da cidade neste curto período de tempo? Porque não os via desde então. Que será que deu neles? Agora surgem do nada e sem convite, como a praga dos potós. Nunca antes havia presenciado disputa por minha soturna e indigesta companhia!

Porém, antes de ascender aos píncaros da fama mundial na cidade, praticamente um BBB, eis que desperto e me plugo à realidade indecorosa: estamos em pleno período eleitoral!

- Aaahhhh! Logo agora que já me preparava para distribuir os primeiros autógrafos.

Olhando melhor à minha volta, vejo igualmente assediados outros plebeus de baixa estirpe. Todos agora são tratados como a cereja do bolo.

De repente descubro em um desconhecido um novo amigo de infância, tão próximo que ele se mostra. O que dizer diante de tantos apertos de mãos? E os constrangedores abraços então, falsos como notas de seis reais. Particularmente neste período do ano perdemos o anonimato e somos alçados à glória do estrelato chinfrim.

O mais intolerável nisso tudo é que não se pode nem mais entornar uma cerva sem que aquele chato com conversa mole e idéias bolorentas se convide para conversar. Isso sem mencionar aqueles filhos da profissional que confundem nossos ouvidos com um vaso e passam a despejar, a partir de seus possantes-que-o-papai-emprestou, aquelas paródias musicais tristemente modificadas para temas políticos, com a finalidade de hipnotizar os incautos e amealhar zumbis.

É preciso muito engov para agüentar nossos neo-amigos.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Utopia

(...) Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.(...)[1]

Perdeu-se no tempo o encantamento anunciado nestes singelos versos. Cá para nós, a tal “modernidade” nos tem imposto um estilo de vida predatório, tanto da natureza quanto do próprio homem. Sai de cena o idílico cenário e eis que nos resta um arremedo de Guernica bombardeada, corroída pela vassalagem indecente.

Queria viver não no apalavrado melhor lugar do mundo, bastaria que eu pudesse andar de moto nas ruas, sem preocupar-me com os buracos na pista e nem com os tiros dos meliantes, cada vez mais ágeis enquanto nossos escoteiros ficam cada vez mais rechonchudos.

Dá-me asco esta balela de: esta é/foi a melhor festa já realizada nesta cidade... esta é a primeira vez na história de Esperantina em que... o maior isso... o maior aquilo, blá, blá, blá. Enquanto isso, na vida real, seguimos enxotando urubus nas ruas.

Enquanto os noticiosos apresentam o cenário como desejam, a vida real nos acorda. Às vezes acho que alguém deveria soar o alerta geral de que não vivemos no Second Life, onde tudo corre às mil maravilhas, como planejado. Aqui as coisas acontecem e na maioria das vezes são desagradáveis e não facilmente mascaráveis. Tenho como exemplo o meu pobre censor.

Sim. Neste retiro de verdes ramagens que encantou ao velho capitão português temos batalhas invisíveis pelo poder, alimentadas por borra-botas medíocres, ávidos pelas migalhas que caem da mesa, feito cães famélicos.

Aos resignados, deixo uma pérola de Raul Seixas:
Quem não tem colírio, usa óculos escuros...
... Quem não tem visão, bate a cara contra o muro.

[1] Canção do Exílio. Gonçalves Dias.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

A Boa Nova

A Resolução 22.718/08 do TSE impõe camisa de força àqueles que esperavam aproveitar o período eleitoral para abrir os olhos da plebe ou simplesmente tirar um sarro dos candidatos.

Agora, qualquer tentativa de apoio ou crítica a determinado candidato será devidamente enquadrado pela norma. Isso ajuda a evitar o denuncismo barato a que estamos acostumados no período eleitoral, porém, tira toda a graça do chatíssimo período em que valores como cidadania e democracia estão à flor da pele. Fico imaginando o que será de programas como Casseta e Planeta, blogs como o kibeloco e outros heróis da resistência, que proporcionam momentos hilariantes ao nos brindar com distintas visões sobre a dura vida de nossos dignos representantes.

Não precisamos de mais leis e normas, bastaria que as existentes fossem cumpridas. Já não existiam restrições a respeito do tema? O interessante é que os jornais escritos podem atormentar a vida e as chances dos candidatos, mas um simples blog deve recolher-se à pequenez de sua insignificância.

Mas nem tudo está perdido, pois a resolução do TSE tem pontos interessantíssimos, que, se devidamente cumpridos, amenizarão nosso tormento, como:

Não será tolerada propaganda
Que perturbe o sossego público, com algazarra ou abuso de instrumentos sonoros ou sinais acústicos. (prevejo muito trabalho para as autoridades)

Que prejudique a higiene e a estética urbana ou contravenha a posturas municipais ou a outra qualquer restrição de direito. (mais?)

É permitido:
Instalar e fazer funcionar, no período compreendido entre o início da propaganda eleitoral e a véspera da eleição, das 8 horas às 22 horas, alto-falantes ou amplificadores de som, nos locais referidos, assim como em veículos seus ou à sua disposição, em território nacional. Note-se que a propaganda deve iniciar às 08:00 e não às 06:40h, certo? E nada de fazer apostas na Casa Lotérica e deixar a propaganda rolando, ok, amadores?

São vedados a instalação e o uso de alto-falantes ou amplificadores de som em distância inferior a duzentos metros (Lei nº 9.504/97, art. 39, § 3º):
I – das sedes dos Poderes Executivo e Legislativo da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, das sedes dos órgãos judiciais, dos quartéis e de outros estabelecimentos militares (Lei nº 9.504/97, art. 39, § 3º, I);
II – dos hospitais e casas de saúde (Lei nº 9.504/97, art. 39, § 3º, II);
III – das escolas, bibliotecas públicas, igrejas e teatros, quando em funcionamento (Lei nº 9.504/97, art. 39, § 3º, III); Em outros períodos eleitorais, ocorria até mesmo o aumento do volume de som dos veículos quando próximo destes locais. Espera-se que este ano seja diferente.
Até o momento, os incisos acima foram criteriosamente desrespeitados nos primeiros dias de campanha, quando carros circularam com propaganda pela Vereador Ramos e outros logradouros que possuem escolas. Se cumprido à risca, a região localizada entre o tal Teatro Diniz Chaves e o Conjunto Palestina ficará livre deste calvário, visto concentrar órgãos públicos, escolas, área militar e hospital.