terça-feira, 12 de julho de 2011

Nos Anos 80 era assim

Imagem: wabrasil.com


Sujeito decidido era aquele. Todo ano viajava para trabalhar pelas bandas do sul, no sumpalo. Ao retornar à terra natal, invariavelmente vestido com a moda de lá, tênis com meia, não importava a ocasião e a temperatura; bermudão no meio da canela; camisa de marca comprada na feira e óculos escuros postos sobre os cabelos, para dar um visual inconfundível de recém chegado, que a tudo respondia com um leve sotaque enviesado, ora puxava no R, ora no S parecendo x.

Ele e todos os outros que andavam “no trecho” tinham uma marca registrada: mal chegavam na cidade e já se dirigiam à loja mais próxima onde compravam uma bicicleta Monark do ano e uma flanela – item indispensável, que punham na garupa, que era para dar um brilho na magrela quando tivesse alguém por perto, olhando. Regozijavam-se ao perceber que alguém os observava quando passavam na rua, momento em que executavam pequeno truque: paravam de pedalar e realizavam o movimento reverso, ou seja, pedalavam para trás para, segundo eles, ouvir as esferas (barulho feito a partir do eixo central da bicicleta, na catraca) e com isso conseguiam ainda mais atenção, ao que os populares que o observavam diziam estupefatos:
- Ééééée. Bicicleta novinha. Tirou “da casa” e “pagou no monte”. Isto era o auge da popularidade, o passaporte para os mais diversos comentários e admiração. Fatos que levaram muita gente a seguir o mesmo caminho.

Nenhum destes passava despercebido por quem quer que fosse, visto os modos com que se deslocavam nas ruas. Nos bares e festas eram os mais animados, populares, geralmente pagavam toda a conta e sempre tinham aquelas que se derretiam todas por eles, ou pela grana deles, na maioria das vezes.

Especialmente nos anos 80 este era um típico trabalhador que migrava para os grandes centros urbanos em busca de melhoria de vida, embora destes, grande parte se tornasse prisioneiro desta prática e sempre voltavam ao final de um mês mais ou menos com as mãos vazias, vendiam a bicicleta, o som e o que mais de novidade traziam do sul e se mandavam para lá novamente, este ciclo se repetindo infinitas vezes, até que cansavam ou não conseguiam mais emprego e se estabeleciam nestas terras, geralmente com pequeno comércio para dali retirar o sustento. E não haverá mais farras. E não haverá mais tantos amigos. Nem tantas mulheres. É a vez dos mais jovens também “caírem no trecho” e continuarem a história do êxodo.

3 comentários:

  1. Esta matéria fez me recordar dos velhos tempos bons de minha vida estudantil, cerca de 11 anos atrás.
    Só faltou falar sobre quem era a felizada que seria levada em casa na garupa da monark nos bailes da cidade.

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  2. naquela época, na bagagem vinham um aparelho de som e várias fitas "k7" (nem sei se escreve assim)depois passaram a trazer CD's, depois MP3 Players, por último vieram os famigerados celulares de dois chips. E amanhã o que virá na mala dos nossos "new retirantes"?? tablets?

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  3. Nesse tempo as pessoas tinham coragem de trabalhar. Hoje há dificuldade pra conseguir alguém pra trabalhar na roça ou pra ser servente de pedreiro. Eles dizem logo "não tenho saúde pra isso". e a dilma (lula) dá o salário pra esses.

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Isto não é uma democracia. Antes de comentar, lembre-se: sou perigoso, tenho uma pá e um quintal grande!