quinta-feira, 4 de junho de 2009

Um minuto de silêncio

Tem início a temporada de festas juninas e aqui em Esperantina os preparativos já podem ser notados. Bom seria se tivéssemos apresentações de grupos folclóricos, na plena acepção da palavra e não grupos comerciais disputando entre si e, particularmente aqui, onde a disputa se resume na verdade em uma dualidade. Sempre os mesmos grupos se esgoelam em intermináveis gritos de “hey”, em uma mistura de transe carnavalesco, baile à fantasia e com sorte, quadrilha junina.

Quem se dá à tarefa ingrata de assistir a um dos incontáveis festivais juninos pode assistir à primeira apresentação e ir embora, pois as demais da noite seguem o mesmo padrão: entra uma comissão de frente encenando algo grotesco ao som de CD com gravação da voz de um locutor engasgado com pão, narrando histórias nem sempre pautadas pela realidade. Logo após, os passistas entram em formação e se apresentam em coreografia pobre e repetitiva. Algumas usam fogos para desviar a atenção de possíveis erros. Pronto. Até o próximo ano.

E as tradicionais quadrilhas juninas? Foram largadas ao ostracismo, não se adequaram aos tempos modernos. A alegria de encenar o dia-a-dia do mundo caipira foi deixada pra trás. Deve ser porque o caipira, aquele lá das brenhas, com calça rasgada e cigarro de palha foi substituído pelo peão de obra com bermudão e óculos de feira que fala “lá em Sampa é assim, mano”.

O que fica dos antigos festivais juninos é justamente a única coisa que não deveria: o festival de postuguêis mal dizido. Algumas pessoas ficam bem a vontade neste período, pois não precisam esconder as origens e qualquer escorregão no português é desculpado pela tradição caipira.

Fico desolado quando leio convites para assistir aos arraiás, onde os cumpadis e cumadis se vestem de moda tradicioná. Uma verdadeira celebração da ignorância que fascina populistas e extasia demagogos.

De minha parte, prefiro fazer um minuto de silêncio a soltar rojões e pular a fogueira da alienação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Isto não é uma democracia. Antes de comentar, lembre-se: sou perigoso, tenho uma pá e um quintal grande!