sexta-feira, 11 de abril de 2008

Sua majestade, o rio

Todos os holofotes se voltam para ele neste momento. Nada de politicagem. Nada de caso Isabela. Nada de nada. É hora de esquecer aquele lixo que jogamos outro dia no leito do rio. Esqueça também o futebol ou os programas enche-lingüiça da TV. O barato agora é passar o dia atrapalhando o trânsito e o serviço dos bombeiros no cais e onde mais haja uma poça d’água.

Sua majestade, o rio Longá, tomou a cena e se tornou a mais nova celebridade instantânea da mídia. Qualquer grupinho de especialistas-de-fundo-de-quintal acha-se no direito e dever de opinar sobre a grande inundação e não mais somente as autoridades diretamente envolvidas no sinistro.

Depois da correria para transportar os prejudicados, a grande sensação agora é: quem ajuda mais? Ou melhor: quem aparece mais? Personagens insuspeitos e outros nem tanto assim disputam tete-a-tete, palmo a palmo quem é o papai noel do momento. É tudo como um grande leilão onde vence “quem dá mais”, no bom sentido, é claro. Olha um cinegrafista ali! Pose com uma cesta básica na mão. Um fotógrafo acolá! Pose ajudando um velhinho a sair do barco. Flash! Será que os eleit... quer dizer, a população vai me reconhecer no jornal? Pensando bem, meu cabelo bem que poderia estar cortado. Não, melhor pintar de preto, dá uma aparência mais jovial.

E assim, nessa dúvida cruel e decisiva para o futuro da humanidade, alguns “filantropos” passam os dias a vaguear pelos bairros ainda alagados, cumprindo seus deveres de cidadãos e cristãos (pois é), sem a mínima pretensão. Em troca de sufrágio? Nunca, jamais, imagine! A gratidão estampada em um rosto esquálido é o único e glorioso pagamento. Dever cumprido.

Um comentário:

  1. ano eleitoral é assim mesmo e principalmente em esperantina

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Isto não é uma democracia. Antes de comentar, lembre-se: sou perigoso, tenho uma pá e um quintal grande!