segunda-feira, 9 de junho de 2008

Cultura ludibriante

Em meados deste mês terá início o período de apresentação das quadrilhas juninas de Esperantina, com suas peculiaridades, como a mesmice das coreografias supostamente únicas, porém repetidas por todos; os fogos de artifício sem nexo; as historinhas nem sempre fidedignas gravadas com voz cavernosa em cd e que antecedem às apresentações; os gritos de heei! a chamar a atenção em um momento qualquer da apresentação e o clima de “guerrinha” entre os diversos grupos, transformando o que antes era espetáculo em circuito de ferrenhas disputas, com resultados duvidosos.

O “novo estilo” de danças juninas em quase nada lembra o antigo e tradicional, com seus passos simples, dançados sem maiores pretensões, a não ser animar as apresentações. A reestilização de dança tão representativa da cultura popular tem sido por diversas vezes atribuída ao processo de globalização, que a tudo transforma – nem sempre para melhor, como no presente caso. Para os mais antenados, a festa junina é espetáculo kitsch.

Também neste período ainda dito junino, pode ser observado que muitas pessoas extravasam a breguice e utilizam trajes os mais caricatos possíveis, no pressuposto de que as festas são caipiras, deixando assim aflorar do seu eu mais profundo o que possuem de mais piegas no íntimo e sentem-se à vontade, mal disfarçando as origens interioranas que em outros períodos renegam. Por essas e outras, não consigo entender porque ainda se utiliza termos como "arraiá" para designar os locais onde os tais espetáculos ocorrem.

Este é um período em que se pode falar sem medo e abertamente de quadrilhas, sem que haja imediata associação da palavra com certa classe de “cidadãos” que conhecemos bem, infelizmente. E, Como não poderia deixar de ser, estes agora se esmeram apoiando a mais pura expressão da cultura popular, patrocinando grupos diversos com nítidas segundas intenções, enquanto nos bastidores continuam a conspirar contra todos que se interponham entre eles e o poder (leia-se dinheiro). Distração para encobrir embromação.

Anarriê para eles.

Anavantur para a cultura, ainda que trôpega.

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