segunda-feira, 28 de maio de 2012

As contradições que indignam


No ano de 2009 a emenda constitucional nº 58 foi promulgada pelo congresso nacional, para a alegria de uma parcela da população que se dedica à vida política e suas regalias. A partir de então, municípios poderão aumentar o número de vagas para as câmaras municipais, desde que observados os limites populacionais. Esperantina, a saber, passou a ter o direito – mas não a obrigação - de eleger 13 vereadores.

Como na maioria das vezes, em se tratando de matéria política, o assunto ficou relegado ao meio político e a população em geral apenas absorveu mais este golpe, sem nada dizer. Em algumas cidades do país a coisa não transcorreu tão frouxa como aqui. Em cidades como Ribeirão Preto, para citar somente um exemplo, a população foi às ruas e onde mais foi preciso para manifestar contrariedade a essa medida e o número de vereadores, que deveria aumentar dos atuais 20 para 27, foi aumentado em apenas mais 2. Isso em uma cidade com IDH bem mais humano que a nossa Esperantina.

E por aqui, o que aconteceu? Nada. A nova lei foi vista como uma nova janela para que mais pessoas interessadas no bem-estar coletivo possam ter assento na desejada casa do povo. Não vejo como 13 cidadãos possam fazer mais que os atuais 9 não resolvam, ressalvadas as limitações óbvias. Muitos dizem que não haverá mais gastos com o incremento no número de edis, visto que os valores repassados continuarão nos mesmos percentuais, mas esse é um discurso reducionista, que se atém apenas aos salários. E se não fará diferença mesmo na questão dos gastos, porque aumentar a quantidade de defensores do povo? A cidade clama por melhores serviços ou somente serviços, qualidade e não quantidade.

Enquanto o erário despende recursos preciosos para sustentar a precária prestação de serviços, assistimos a agonia de uma entidade – esta sim, de relevância para a cidade – agonizar, definhando na sua luta por melhores condições de vida e ações de cidadania para pequenos cidadãos esperantinenses por falta de recursos que por direito são seus. Eis o ponto: enquanto a entidade AMARE corre o risco de fechar as portas e encerrar oportunidades, muitas vezes as únicas, para centenas de crianças da cidade, a verba que poderia ser muitíssimo melhor empregada na entidade regará o jardim de oportunidades da edilidade local a partir do ano de 2013. E o clamor das ruas? Nada. Continuaremos nos cochichos de mesa de bar e falatórios na esquina.

Chega a ser ridículo se analisarmos a situação e vermos que a maior ajuda que a AMARE pode contar vem de muito longe de nossa cidade, de pessoas que desinteressadamente dedicam tempo e despendem recursos particulares para dar melhores condições de vida a outros que sequer conhecem, mas que lamentavelmente são alijados de seus direitos mais elementares e que infelizmente são vítimas de um sistema cruel que atua graciosamente em benefício de poucos e mal e porcamente em detrimento da maioria. Por onde andam nossos cidadãos, que se orgulham dos carrões e da esbórnia nas incontáveis festas locais? Continuarão deitados eternamente em berço esplêndido, aguardando o tal espírito natalino para poder ajudar? Pobres mentes dementes que limitam a vigiar o próprio umbigo.
Imagem: leiturasdecris.blogspot.com

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