segunda-feira, 13 de agosto de 2007

A violência e a desculpa

Analisando os recentes atos de violência ocorridos em Esperantina, podemos observar que a maioria das pessoas tem uma resposta quase automática a isso: falta de Deus no coração. Mas será mesmo isso? Quando as pessoas tentam justificar a violência com estas palavras vêm-me à mente que na verdade elas deveriam dizer “falta bondade no coração”. Este ato de colocar algum deus em todos os aspectos da vida humana é uma palermice que vem desde tempos imemoriais, quando o homem precisava justificar de algum modo tudo que ocorria à sua volta e criou os mitos, que em maior ou menor medida, sobrevivem até hoje.
Vejamos: de que adianta cantar como um rouxinol nas missas/cultos de domingo e não praticar a religião (bondade?) fora das igrejas? É comum ver pessoas “religiosas” que, ao serem abordadas por pedintes, saem-se com o tradicional “vá trabalhar, vagabundo” ou “vá procurar o que fazer” e continuam seus trajetos, crentes que estão de que tem assegurado para sim um lugar na primeira fila do paraíso, quem sabe ao lado Dele.
Observando o comportamento destes “religiosos”, “tementes a Deus” pode-se notar que vivem se tolhendo de usufruir boas coisas na vida por temerem amargar a eternidade no fogo eterno, no inferno, para os mais íntimos. Einstein disse certa vez que se as pessoas são boas só por temerem o castigo e almejarem uma recompensa, estas realmente formavam um grupo muito desprezível. Como duvidar disso? As religiões mantêm as pessoas na dependência eterna, conformando-as por não entenderem o mundo e a continuarem a não entendê-lo. Sempre se entregando a alguém para resolver seus problemas pessoais. A falta de consciência em suas faculdades mentais, o complexo de inferioridade e as dificuldades da vida fazem com que muitos parem de pensar logicamente e se entreguem a todo tipo de pensamento, por mais absurdo que seja. As pessoas raramente analisam as conseqüências de seus atos momentâneos. Simplesmente dizem amém a tudo. Será que isso é bom para a humanidade como um todo? Será que não precisamos de mais rebeldes ao invés de mais conformistas? Todo avanço da humanidade foi uma rebeldia contra um ato ou situação qualquer. Uma rebeldia contra os padrões vigentes. Rebeldia não significa ser do contra, significa ser verdadeiro consigo próprio. Fazer as coisas em que se acredita, e não fazê-las simplesmente por que todos fazem, configurando assim o famoso termo maria-vai-com-as-outras. Rebeldia também não é ir contra tudo só para ser diferente, não é ser do contra ou a favor. É ser integro e coerente com o que se acredita ou deixa de acreditar. Será que precisamos mesmo nos diminuir ante a sabedoria ou bondade de pessoas supostamente iluminadas? Bakunin nos brindou com a seguinte frase: "Todas as religiões, com seus deuses, semideuses, profetas, messias e santos, são resultados da fantasia e credulidade de homens que ainda não atingiram o total desenvolvimento e personalidade das suas capacidades intelectuais". Portanto, antes de atribuir a algo - ou alguém – a culpa por atos do cotidiano, devíamos observar nossas deficiências e o que estamos fazendo para saná-las, ao invés de simplesmente procurar uma explicação na mitologia que se convencionou chamar religião.

Um comentário:

  1. não esqueça que o conceito de "bondade" é construído culturalmente em cada momento histórico, dar esmolas não é o maior ato de bondade que se possa elogiar, tanto quem faz como quem não faz está tirando a dignidade de um ser humano capaz de pensar e agir, sendo que este não é apenas um agente passivo na construção histórica. Daí vem a necessidade de que como em vários momentos históricos, nós e digo cada um de nós, manifestemos o nosso pensamento e realmente busquemos soluções eficases para promover o bem estar social.

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Isto não é uma democracia. Antes de comentar, lembre-se: sou perigoso, tenho uma pá e um quintal grande!