sexta-feira, 30 de março de 2007

Até quando?

“...E a cidade, que tem braços abertos num cartão postal,
Com os punhos fechados na vida real...”

O trecho desta música dos Paralamas do Sucesso lembra, por breves momentos, a realidade vivida pela população de Esperantina.
A cidade prepara-se para receber inúmeros turistas. Nesses dias de intensa correria, inúmeros remendões são feitos para sustentar as aparências, operação tapa-buracos, a onipresente pintura dos meio-fios, tão manjada quanto discursos populistas não poderia ficar de fora.
Se antigamente, para livrar-se rapidamente de algum problema dizia-se que alguém escondia a sujeira “debaixo do tapete”, aqui nós temos os meio-fios pintados de branco. Melhor para os vendedores de cal e por tabela, para os trabalhadores empenhados na função de pintar.
Seria pra morrer de dar risadas, se tudo isso ocorresse em outra cidade, não sob nossas vistas, em nosso querido torrão natal. Convenhamos que a cor branca é indicativo de limpeza, pureza, mas não dá pra ficar olhando somente para o meio-fio. E os remendos no asfalto? E o trânsito louco? E os bolsos vazios? E a inércia no desenvolvimento?
A intensa propaganda nos faz acreditar que preparamo-nos para receber amigos, parentes, turistas e o que devemos mostrar a eles são obras grandiosas, feitas pra durar e encantar. Devemos mostrar-nos pessoas felizes e educadas a saltitar ao som de inúmeras atrações musicais, sem maiores preocupações que não esbaldar-se na folia subsidiada. O melhor lugar do mundo pra se viver. Trânsito disciplinado, com seus lindos meio-fios pintados de branco, um cenário quase bucólico de cidadezinha do interior. O paraíso é aqui.
Enquanto isso, no mundo real...Melhor não levarmos os visitantes às casas de pessoas mal humoradas que teimam em reclamar de salários atrasados. Poderíamos... sim! Poderíamos convencê-los a não andar em certas ruas, determinados bairros. Eis a solução, rápida e rasteira, como esconder o lixo debaixo do tapete! Jusqu'à quand?

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