quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Encantadores de serpente

Alguém já parou para observar atentamente as músicas dos carros de propaganda? Não? Pois está perdendo tempo quem ainda não o fez.

Não é preciso torrar os neurônios para se constatar que Esperantina tem (terá?) um destino promissor, eldorado do cerrado. Sim, desta vez romperemos as amarras que nos prendem ao atraso e, qual mísseis teleguiados, atingiremos implacavelmente o alvo: o sempre prometido e esperado desenvolvimento, que nos alçará ao topo do IDH nacional.

São tantas as músicas e produzem tantos estados emocionais que nos fazem lembrar – por analogia com as intenções de seus idealizadores - o flautista de Hamelin ou os encantadores de serpentes da Índia, ícones da arte de encantar pobres criaturas com doces melodias, a fim de subjugá-los às suas vontades. Em tais casos, o objetivo da música é o mesmo: hipnotizar para dominar.

A música, inicialmente concebida pelo homem antigo para se entreter em volta da fogueira ou para agradecer aos deuses pelas boas caçadas ou ainda pela colheita farta, agora é rebaixada à condição de mero instrumento de alienação. Em instantes transforma indivíduos inexpressivos em versões tupiniquins do nazareno reencarnado. Pobres de nós. Condenados a ouvir por longos e penosos períodos a uma infinidade de paródias que prestam um desserviço à informação e a cultura, já tão combalidas.

Um comentário:

Isto não é uma democracia. Antes de comentar, lembre-se: sou perigoso, tenho uma pá e um quintal grande!