segunda-feira, 14 de julho de 2008

Utopia

(...) Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.(...)[1]

Perdeu-se no tempo o encantamento anunciado nestes singelos versos. Cá para nós, a tal “modernidade” nos tem imposto um estilo de vida predatório, tanto da natureza quanto do próprio homem. Sai de cena o idílico cenário e eis que nos resta um arremedo de Guernica bombardeada, corroída pela vassalagem indecente.

Queria viver não no apalavrado melhor lugar do mundo, bastaria que eu pudesse andar de moto nas ruas, sem preocupar-me com os buracos na pista e nem com os tiros dos meliantes, cada vez mais ágeis enquanto nossos escoteiros ficam cada vez mais rechonchudos.

Dá-me asco esta balela de: esta é/foi a melhor festa já realizada nesta cidade... esta é a primeira vez na história de Esperantina em que... o maior isso... o maior aquilo, blá, blá, blá. Enquanto isso, na vida real, seguimos enxotando urubus nas ruas.

Enquanto os noticiosos apresentam o cenário como desejam, a vida real nos acorda. Às vezes acho que alguém deveria soar o alerta geral de que não vivemos no Second Life, onde tudo corre às mil maravilhas, como planejado. Aqui as coisas acontecem e na maioria das vezes são desagradáveis e não facilmente mascaráveis. Tenho como exemplo o meu pobre censor.

Sim. Neste retiro de verdes ramagens que encantou ao velho capitão português temos batalhas invisíveis pelo poder, alimentadas por borra-botas medíocres, ávidos pelas migalhas que caem da mesa, feito cães famélicos.

Aos resignados, deixo uma pérola de Raul Seixas:
Quem não tem colírio, usa óculos escuros...
... Quem não tem visão, bate a cara contra o muro.

[1] Canção do Exílio. Gonçalves Dias.

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